Campeã olímpica, junto com equipe técnica, decide não competir nesta temporada para cuidar do corpo e da mente: “Tô descansando. Tá sendo bem importante pra mim”
Os planos de Rebeca Andrade na ginástica artística já estão focados em 2026. A maior medalhista olímpica do Brasil, junto com sua equipe técnica, optou por estender o período sabático pós-Olimpíadas de Paris para continuar colhendo os frutos dos Jogos e principalmente recuperando corpo e mente. Assim, a ginasta de 26 anos não vai competir em 2025. Ela tinha o Mundial de Jacarta como maior desafio na temporada, mas confirmou que não planeja disputar a competição na Indonésia em outubro. É uma pausa para chegar a Los Angeles 2028 em plena forma.
– A gente optou por ela não competir este ano. Dentro do planejamento da Rebeca, este ano seria mais tranquilo. Ativo sim dentro do ginásio, manter a preparação física, a proteção articular de todo o corpo, que ela precisa, fisioterapia, dores crônicas que ela leva, e vai levar talvez até quando parar a ginástica. É muito sacrifício. Vamos manter esse “destreinamento ativo”, que ela possa atender toda essa demanda fora do ginásio. Toda a equipe achou que não era o melhor momento para não tirar ela desse voo de cruzeiro que a gente tá, e tá indo muito bem. Aí sim em 2026 a gente tem compromissos muito importantes. Começa a valer a classificação olímpica – afirmou o técnico Francisco Porath, o Xico, em entrevista ao ge.
É comum ginastas medalhistas olímpicas tirarem um ano de descanso depois dos Jogos. Simone Biles, por exemplo, não competiu em 2017 depois dos Jogos do Rio, nem em 2022, após Tóquio. A americana de 28 anos novamente está fora das competições, mas deixou aberta a possibilidade de competir em 2028.
Rebeca compete entre as adultas desde 2015 e pela primeira vez está tendo um período de descanso. Ela não entra em ação desde o Campeonato Brasileiro de setembro de 2024. De lá para cá, tem tido muitos compromissos comerciais, mas também participou de premiações como o Laureus e fez viagens pessoais mundo afora.
– Tô descansando. Tá sendo bem importante pra mim. Era algo que eu queria há muito tempo, mas eu entendia as minhas prioridades. Então acabei jogando mais pra frente. Mas hoje para mim tá sendo maravilhoso – disse Rebeca.
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Mesmo sem competições em 2025, a campeã olímpica continua treinando no Centro de Treinamento do Time Brasil, no Rio de Janeiro, só que em um ritmo menos intenso. Os treinos a ajudam a manter o corpo saudável.
– É também para a cabeça. Ela não vem ao ginásio obrigada. Ela vem, ela se diverte, ela treina, ela vê as meninas. Ela tá com a rotina de treino mais baixa, mas com a cabeça muito boa – disse Xico.
Adeus ao solo
Desde o título olímpico do solo, Rebeca Andrade se despediu do aparelho. Não tem a intenção de treiná-lo para o ciclo dos Jogos de Los Angeles 2028, o que também a tira das disputas do individual geral. Embora sempre deixe uma brecha para mudar os planos, ainda não mudou de ideia.
– Perguntando hoje para mim é uma coisa resolvida 100%. Não quero fazer. Eu passo por isso todo dia, eu passo pelas dores, pelo cansaço, sei a entrega que eu preciso fazer para ter uma boa apresentação. Não quero chegar e fazer qualquer coisa. Quero chegar para fazer meu melhor dentro das minhas possibilidades. Agora o Xico já aceitou também. Ele foi relutante (risos). Fica superfeliz quando eu faço. Não ter mais, ele sofre – disse Rebeca, que passou por cinco cirurgias nos joelhos.
– Eu falo: “Rebeca, qual é a próxima música do solo?” Ela: “Eu não vou fazer solo” – completou o treinador.
– Eu falo: “Para de encher meu saco!” (risos) – brincou Rebeca.
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Apesar de ser o aparelho que consagrou a campeã olímpica, o solo é o que mais exige de seu corpo. Rebeca quer lidar menos com as dores e acredita que tem brasileiras capazes de manter o bom nível da equipe no solo.
– Para mim é muito sofrido também prepará-la para o solo. Eu me emociono quando é dia de treino de solo. É bem pesado. Tirar essa força, essa energia, é bem difícil. Acaba aquele treino, a gente fala: “Ufa! Ela venceu mais uma batalha”. Quando ela faz um treino desses, ela se sente preparada, e a gente vai controlando, mas até chegar lá é muito risco, muito sofrido. Se ela faz um treino forte desses, ela passa dois dias para recuperar e poder fazer outro treino forte. Solo é um aparelho que desgasta muito ela. Isso pode comprometer outros aparelhos. Não é inteligente da nossa parte tentar todas as finais possíveis e nenhuma medalha por exemplo. Então a gente tem que realmente pensar nisso. E também temos atletas capazes dentro dessa geração que está vindo. É um alívio para ela e também notícia boa para as meninas. A vaga do solo tá aberta. Mexe com todo mundo – explicou Xico.
Fonte: Edgar Alencar e Marcos Guerra — São Paulo – 13/08/2025