Xenotransplante aconteceu em um homem com morte encefálica declarada. Apesar do estudo demonstrar viabilidade no procedimento, ainda há muitos desafios relacionados à rejeição do órgão e à infecção.
Um pulmão de porco geneticamente modificado permaneceu funcional por um período de nove dias após um transplante para um receptor humano com morte encefálica declarada, mostrou uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (25) na revista científica “Nature Medicine”.
Segundo os pesquisadores essa é provavelmente a primeira ocorrência documentada do transplante de um pulmão entre espécies, o que abre caminho para aplicações clínicas no futuro.
➡️O chamado xenotransplante consiste na troca de órgãos entre espécies. A técnica, que envolve a modificação genética do órgão antes do transplante, é uma possível solução para escassez de órgãos humanos para cirurgias. (veja na arte abaixo)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/c/o/OJSPBZSkmnbVlmk8Rkug/250822-info-etapas-xenotransplante-1-.jpg)
Estudos anteriores já haviam demonstrado a viabilidade do transplante de rins, corações e fígados de porcos com edição genética para humanos. Mas essa é a primeira vez que se estuda a técnica com pulmões.
De acordo com os pesquisadores, apesar do estudo demonstrar que o transplante desse órgão entre espécies é possível, ainda há muitos desafios relacionados à rejeição do órgão e à infecção. Por isso, ainda são necessárias análises pré-clínicas antes da utilização da técnica em humanos vivos.
Nove horas em funcionamento
Para o estudo, a equipe realizou o transplante de um pulmão de um porco com seis edições genéticas para um receptor humano de 39 anos, do sexo masculina, com morte encefálica após uma hemorragia cerebral.
O pulmão de porco demonstrou boa viabilidade e funcionalidade ao longo das 216 horas – ou nove dias – de monitoramento, sem sinais de rejeição ou infecção.
Um edema grave foi observado 24 horas após o transplante, muito provavelmente por conta do dano causado ao tecido quando o fluxo sanguíneo e o oxigênio são restaurados após um período de privação.
A rejeição observada ao longo dos dias, com certo dano ao órgão, foi mediada por anticorpos, entre os dias 3 e 6, com recuperação parcial até o dia 9.
Desafios do xenotransplante
De acordo com os pesquisadores, são necessárias melhorias tanto para otimizar as modificações genéticas no porco doador como nos medicamentos utilizados para evitar a rejeição do órgão.
Além disso, a manutenção do funcionamento do órgão a longo prazo ainda é um obstáculo.
👉De maneira geral, os principais desafios para o sucesso dos xenotransplantes são:
- Rejeição do órgão transplantados
Mesmo em transplantes realizados entre humanos, o sistema imunológico pode tratar o órgão transplantado como uma infecção e atacá-lo, no processo conhecido como rejeição.
Para evitar esse quadro, são receitados imunossupressores, que atenuam a ação do sistema imunológico e evitam que o corpo rejeite o órgão doado.
- Crescimento indevido do órgão
No caso dos xenotransplantes, os órgãos transplantados podem reagir com hormônios do crescimento humano, o que geraria um aumento fora de controle do órgão doado.
Por isso os cientistas realizam edições e ajustes genéticos nos porcos que serão os doadores, a fim de evitar essa interação indesejada.
- Transmissão de doenças
Outro ponto que também pode ser controlado a partir da modificação genética é a inativação de vírus que podem ser transmitidos a partir do xenotransplante.
A técnica de edição genética Crispr, descoberta em 2012, permite que o código seja editado de forma precisa e muito mais barata. A partir dela, os cientistas conseguiram inativar um retrovírus suíno, por exemplo.
Fonte: Júlia Carvalho, g1 – 25/08/2025