O Profissão Repórter teve acesso ao roteiro do golpe, que simulava o atendimento da Polícia Civil. O documento detalha frases e instruções que os criminosos deveriam seguir durante a ligação.
Uma brasileira traficada para o Sudeste Asiático revelou ao Profissão Repórter como funcionava um dos golpes aplicados por quadrilhas que fazem vítimas no Brasil. Por segurança, ela pediu para não ser identificada.
O esquema
O esquema envolvia três etapas e simulava uma operação policial. Os criminosos atuavam diretamente do Camboja, durante a madrugada, para se adequar ao fuso horário brasileiro. Com acesso a dados pessoais como nome, CPF e endereço, eles ligavam para vítimas no Brasil se passando por agentes da Polícia Civil e informam que uma pessoa tinha sido presa com um cartão de crédito em nome da vítima.
“A pessoa ficava desesperada: ‘mas eu nem tenho conta nesse banco’. Aí a gente falava: ‘mas a senhora tem costume de entrar em Wifi ou rede pública ou conectar carregador em local público, porque eles podem roubar seus dados'”.
A primeira etapa do golpe, chamada de “linha 1”, envolvia o falso contato da Polícia Civil. Em seguida, os golpistas orientavam a vítima a comparecer a uma delegacia, geralmente distante de onde ela morava.
“Quando a pessoa dizia que não podia ir, eles transferiam a ligação para a ‘linha 2’, que era a falsa Polícia Federal”, explicou.
Na segunda etapa, os criminosos pressionavam a vítima a revelar informações bancárias. Alegavam que, caso ela não colaborasse, suas contas seriam congeladas e ela poderia ser acusada de envolvimento com o crime.
“Eles perguntavam quanto a pessoa tinha em cada banco. A vítima, com medo, acabava falando: ‘tenho R$ 800 em tal banco, R$ 500 em outro’”, relatou.
A terceira e última etapa, chamada de “linha 3”, envolvia uma suposta conta da Polícia Federal. Os golpistas pediam que a vítima transferisse o dinheiro para essa conta, sob o pretexto de protegê-lo até o fim da investigação.
“Diziam que, quando tudo acabasse, a pessoa ia receber o dinheiro de volta. Mas era mentira”, afirmou.
Segundo a brasileira, os golpistas seguiam um roteiro decorado.
“Eles davam o texto para a gente e a gente tinha que estudar.”
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Roteiro do golpe
A reportagem teve acesso ao roteiro usado na “linha 1”, que simulava o atendimento da Polícia Civil. O documento detalha frases e instruções que os golpistas deveriam seguir durante a ligação.
“Seus bens em seu nome podem ser congelados e, se a situação for séria, você pode até sofrer uma penalidade de reclusão com base nos crimes investigados”, diz um dos trechos do documento.
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A mulher traficada contou ainda que era obrigada a aplicar os golpes sob ameaça de tortura.
“Eles ficavam com um taser atrás de você, uma arma de choque”, disse.
Fonte: Profissão Repórter – 10/10/2025