Gustavo Dutra/DOL – A Amazônia é um bioma de biodiversidade inigualável e peça central no debate climático global na COP 30, que ocorre em Belém até o próximo dia 21. Uma das peças chave da discussão que ocorre na capital paraense é entender que a região é mais do que um ativo ambiental, mas também um motor econômico latente, que precisa estar ligado à preservação ambiental, cultural e étnica da região.
Historicamente, a preservação da floresta esteve ligada à luta de povos tradicionais, mas para garantir a floresta em pé a longo prazo, é essencial viabilizar economias robustas e inclusivas que gerem emprego e renda sustentáveis. Neste contexto, o ecoturismo, especialmente o de base comunitária, emerge como uma das ferramentas mais promissoras para garantir que a riqueza natural se traduza em qualidade de vida e desenvolvimento para os povos da região, enquanto o Brasil se consolida como o principal destino de natureza do mundo.
Em meio à intensa movimentação da COP 30, o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, concedeu uma entrevista exclusiva ao DOL e detalhou a visão do Governo Federal para o setor, além de ressaltar a importância do evento em Belém para catalisar essa transformação – e comentar a fala xenofóbica do chanceler alemão Friedrich Merz, que atacou Belém e o Brasil após participar da COP.
O Brasil como líder do Ecoturismo e o papel da Amazônia
Marcelo Freixo iniciou sua análise celebrando o reconhecimento internacional do potencial turístico do Brasil, um ativo que vai além da Amazônia, mas que nela encontra um de seus pontos mais fortes. Ele destacou que o potencial do Brasil é evidente, abrangendo seis biomas, o oceano, o Pantanal e a Mata Atlântica.
“Desde 2023 o Brasil é o principal destino de ecoturismo do mundo. A revista Forbes fez uma publicação importantíssima, monstrando que o Brasil superando o México e outros países e se tornando maior destino de turismo de natureza do planeta”, afirmou.
O presidente da Embratur também conectou a importância do turismo de base comunitária aos novos mecanismos de financiamento discutidos na COP 30. Ele citou o Fundo Tropical Florestas para Sempre (TFFF), anunciado ainda durante a Cúpula dos Líderes, como resultado concreto da Conferência, como um instrumento que deve ajudar a responder a uma pergunta crucial: como manter a floresta em pé?
“E manter a floresta em pé significa viabilizar a vida dos povos que até hoje foram os grandes responsáveis por essa floresta em pé. O turismo é uma dessas ferramentas”, argumentou Freixo, defendendo que o fomento a essa modalidade turística é intrinsecamente ligado a um modelo de desenvolvimento justo e duradouro.
“É evidente que o turismo de base comunitária fortalece uma ideia de uma economia verde que seja robusta e inclusiva. Porque uma economia verde tem que ser robusta e tem que ser inclusiva. Para isso tem que ter geração de emprego, tem que ter geração de renda e tem que ser sustentável. O turismo é uma enorme possibilidade dessa ferramenta”.
Turismo de base comunitária
Ao detalhar a estratégia do órgão para a Amazônia, Freixo enfatizou que uma das prerrogativas dos projetos de ecoturismo envolvem o turismo de base comunitária, que coloca os povos tradicionais no centro da tomada de decisões e dos lucros, garantindo o protagonismo local. “A gente tá falando deles como protagonistas, como donos dos seus negócios e que falam por essa região”, resumiu o presidente.
“Se você visita a ilha do Combu, que fica a 10 minutos aqui do centro de Belém, você tem uma experiência concreta do que eu estou dizendo. Você tem um turismo de base comunitária, você tem uma ilha, e são mais de 20 ilhas só aqui em Belém. Você imagina isso em toda a região amazônica, todo o potencial que você tem”.
O grande desafio, na visão da Embratur, é garantir que os recursos financeiros cheguem onde o turismo está estabelecido e é realmente sustentável. Para isso, Freixo sugeriu a criação de indicadores.

“Você pode ter um indicador de turismo que diga, por exemplo, que prática turística tá gerando mais emprego, tá gerando mais renda, tá trazendo mais gente, tem um plano de manejo em relação à questão da relação com a natureza, seja mais sustentável. Você pode ter um indicador e ele ser um instrumento para fazer esse recurso chegar onde o turismo está estabelecido, garantindo essa floresta em pé e gerando emprego e renda”.
A Belém pós-COP 30
Para Freixo, a realização da COP 30 em Belém é claramente um divisor de águas para a cidade. Ele ressaltou que a capital paraense viverá uma transformação econômica e de infraestrutura, citando a melhoria do porto como um exemplo de legado.
“Acho que você tem uma Belém até a Copa, tem outra Belém depois. Foi uma transformação para essa cidade”, comentou o presidente da Embratur, destacando a importância do investimento em infraestrutura.
“Eu me reuni o governador ontem, e ele falou muito do investimento do porto. Hoje esse porto que tem Belém é considerado pelos próprios donos do navio como melhor porto do Brasil. Belém não tinha um porto dessa estrutura e hoje isso é possível, né? Então você tem uma mudança de possibilidades de economia muito grande”.
O desafio imediato da Embratur é garantir que a visibilidade global alcançada com a COP 30 não se perca. Para isso, Belém e a Amazônia estarão no centro das ações promocionais do órgão em 2026.
“Belém tá no olho do mundo, passou a COP, não pode sair, não pode ter retrocesso.”, alertou Freixo, informando que a Amazônia será levada a eventos internacionais chave.
“Nós vamos ter três feiras importantes no final do ano e início do ano que vem. Nós temos a feira de Madrid, a feira de Portugal e a feira de Berlim. Nessas três feiras nós vamos ter Belém com a gente. Então a gente vai ter o Pará com a gente, vai ter Amazônia, porque a gente precisa capacitar e qualificar a informação sobre a Amazona no mundo. Então se puder fazer isso junto com prefeitura e o governo, é muito melhor, porque fica mais forte”.
Ataque à Belém pelo Chanceler Alemão
Questionado sobre o comentário polêmico do chanceler alemão, Friedrich Merz, que foi interpretado por parte da imprensa brasileira como um ato de xenofobia contra a Amazônia, Freixo não poupou críticas, classificando a postura como lamentável e pobre.
“No fundo, o meu sentimento foi de pesar. É lamentável, não é uma postura que se espera de alguém que tá no encontro mundial, não é diplomático isso”, disse.
“Acima de tudo, é um comentário pobre de alguém de um país rico, mostrando que um país rico não necessariamente fazem pessoas ricas, podem fazer pessoas pobres, pobre no seu olhar. Acho que tem duas coisas que quando o ser humano mistura fica muito ruim, é muito triste, que é a arrogância e a ignorância. Você falar sobre algo que você não conhece… essa pessoa não teve o prazer de conhecer a Amazônia, não teve o prazer de conhecer o seu povo, a sua cultura e, no auge de uma arrogância, fala da sua ignorância”.
Freixo fez questão de diferenciar a opinião do chanceler do sentimento do povo alemão, que é um dos principais visitantes da região. Ele garantiu que a Alemanha e a França, entre os países europeus, são os que mais visitam a Amazônia, demonstrando um interesse genuíno pela natureza. “Acho que se ele conhecesse o Cupuaçu, ele ia ver que é melhor do que a chucrute”, conclui.
Fonte: Cop.dol – 18 de novembro de 2025


