Sob aplausos da plenária, trabalhos foram encerrados com aprovação de documento “Mutirão Global”. Texto não cita os combustíveis fósseis, mas cria estruturas que ampliam a agenda de cooperação e organizam debates.
A Conferência do Clima (COP30) concluiu na tarde deste sábado (22) a aprovação de acordos negociados ao longo duas semanas em Belém. Após a aprovação, simbolizada pela batida de martelo, a plenária foi suspensa por volta da 14h15.
A paralisação ocorreu porque países, entre eles a Colômbia, Panamá, Uruguai e Argentina, questionaram a aprovação de alguns dos itens. Depois dos questionamentos, o presidente decidiu suspender a sessão para conversar com as delegações e tentar resolver as dúvidas sobre a aprovação dos textos.
Antes, sob aplausos da plenária, os trabalhos foram encerrados com aprovação de mais de uma dezena de textos, entre eles o documento “Mutirão Global: Unindo a humanidade em uma mobilização global contra a mudança do clima” (veja, abaixo, 8 destaques do que foi aprovado).
O texto do Mutirão não cita os combustíveis fósseis, mas cria estruturas que ampliam a agenda de cooperação, organizam debates e inclui a meta de triplicar o financiamento para adaptação até 2035.
Aplausos e vaias
Após as aprovações, diferentes países expressaram apoio ou discordâncias com os conteúdos aprovados, incluindo até mesmo o Vaticano que foi vaiado ao criticar a preocupação com questões de gênero.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, também foi aplaudido após afirmar que o mapa do caminho não será abandonado.
“Sei que todos estão cansados, sabemos que muitos de vocês tinham mais ambição para alguns temas e que a sociedade vai exigir mais. Eu prometo que vou tentar não desapontar vocês. Nós precisamos de mapas para que possamos ultrapassar a dependência dos fósseis de forma ordenada e justa. Eu vou criar dois mapas: um para reverter desmatamento e fazer transição para longe dos fósseis”, anunciou o presidente.
Apesar do compromisso, a decisão de Lago se trata de uma iniciativa exclusiva da presidência que não tinha consenso e não será citada no documento final. Criar um roteiro (mapa do caminho) para o fim do uso dessas fontes de energia virou um dos temas centrais da conferência.
Na sexta-feira (21), a Colômbia anunciou que vai organizar uma conferência internacional sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Ela deve ocorrer em abril de 2026, na cidade de Santa Marta, e será organizada em parceria com a Holanda.
Reação dos países
Durante a aprovação do acordo final da COP30, várias delegações pediram a palavra para registrar posições. A Argentina afirmou que não concorda com a forma como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram incluídos no texto e solicitou que sua objeção constasse oficialmente.
O Chile também registrou sua posição, dizendo que procedimentos previstos não foram seguidos na fase de negociação e pediu que essa observação fosse incluída nos autos.
Já o Panamá declarou estar desapontado com a forma como o texto foi fechado. A delegação disse que não se sentiu ouvida, criticou a falta de transparência e discordou da aprovação do pacote sobre adaptação. Segundo o país, um dos trechos do acordo não traz compromissos financeiros claros, o que, na visão deles, deixa o resultado aquém do necessário.
“Deveria ter sido a COP da adaptação, mas o desfecho está longe”, disse uma delegada da Colômbia durante a adoção do acordo final. Em seguida, o país declarou apoio às intervenções feitas por Panamá e Uruguai, alinhando-se às críticas sobre o processo e sobre o resultado apresentado no trecho de adaptação.
Outro ponto aprovado, mas que gerou reação de muitos países foi o Objetivo Global de Adaptação (GGA).
Países como Panamá, Uruguai e Colômbia disseram que o processo não foi transparente e que os indicadores não vêm acompanhados de compromissos claros de financiamento
Outros países consideraram que o texto não atende as necessidades de países em desenvolvimento.
O que foi aprovado na plenária final da COP30
Durante a sessão plenária deste sábado (22), os países adotaram uma série de decisões que compõem o pacote final da COP30. Veja, em ordem, o que foi aprovado:
1. Decisão do Mutirão (CMA.6)
A plenária aprovou o documento político central da conferência — o Mutirão, que reafirma que a transição global para um desenvolvimento de baixas emissões é irreversível e que o Acordo de Paris “está funcionando”, mas precisa ir “mais longe e mais rápido” .
O texto também convoca uma mobilização global para acelerar a implementação das metas climáticas de cada país (as NDCs), lança o Acelerador Global de Implementação e estabelece que países devem trilhar caminhos alinhados ao limite de 1,5°C.
2. Programa de Trabalho de Transição Justa
Aprovado logo depois do Mutirão, o documento cria um mecanismo formal para apoiar países em políticas de transição justa — incluindo cooperação técnica, geração de empregos, proteção social e inclusão de trabalhadores afetados pela mudança do modelo energético.
3. Decisão sobre o Balanço Global
A plenária aprovou o texto relativo ao Balanço Global, mantendo o espaço de discussão criado em Dubai para acompanhar a implementação das recomendações da primeira avaliação do Acordo de Paris.
4. Decisão sobre o Artigo 2.1(c)
O documento aprovado reforça o compromisso de tornar fluxos financeiros consistentes com o desenvolvimento de baixas emissões e resiliência climática, tema central da reorganização do financiamento climático internacional.
5. Decisão sobre Medidas de Resposta
O fórum sobre impactos socioeconômicos de políticas climáticas também teve sua decisão adotada, tratando de como países podem lidar com efeitos adversos de transições rápidas, incluindo efeitos sobre empregos e competitividade.
6. Fundo de Perdas e Danos (Loss and Damage Fund)
Aprovada a orientação para o novo fundo, incluindo a operacionalização das Barbados Implementation Modalities — o primeiro conjunto de medidas para destravar financiamento direto a países vulneráveis em 2025 e 2026.
7. Fundo de Adaptação
A plenária adotou o texto que amplia o teto de projetos (de US$ 10 milhões para até US$ 25 milhões por país) e reconhece a falta de recursos para atingir a meta anual de US$ 300 milhões. O texto aprovado reforça a urgência de ampliar o apoio financeiro à adaptação .
8. Objetivo Global de Adaptação (GGA) – Indicadores
Uma das entregas mais aguardadas: foi aprovado o conjunto de indicadores globais de adaptação, criando uma estrutura inédita para medir progresso, vulnerabilidades e ações de resiliência de forma padronizada entre os países.
Atraso e disputas de bastidores
Os textos aprovados refletem o ambiente de disputas entre governos que marcou a COP30, onde os negociadores preservaram consensos mínimos em um cenário de divergências profundas. Especialistas apontaram avanços pontuais e falta de ambição no rascunho final.
Eles foram aprovados pelos representantes de 195 países depois de discussões que avançaram pela madrugada e foram encerradas somente na manhã de sábado, pouco depois das 8h.
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Participação em Belém
A COP30 em Belém reuniu mais de 42 mil participantes de 195 países na Blue Zone, segundo dados preliminares do Ministério do Turismo e da Polícia Federal coletados entre 10 e 20 de novembro. O governo federal afirma que esta foi a segunda maior edição da história em público, atrás apenas da conferência realizada em Dubai.
Próximas conferências: Turquia e Etiópia
Um das decisões já divulgadas é sobre onde serão as próximas conferências: ficou definido que a Turquia será a sede da COP31 (2026) e a, Etiópia, sede da COP32 (2027).
Fonte: Roberto Peixoto, Júlia Carvalho, Poliana Casemiro, Paula Paiva Paulo, g1 – 22/11/2025


