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Jesus nasceu mesmo em 25 de dezembro? A história por trás da data

1Entre erros de cálculo, profecias bíblicas e festas pagãs, historiadores explicam por que é impossível saber o dia exato do nascimento de Jesus.

Poderia ter sido em abril. Talvez em julho. Quem sabe em outubro. Ou, ainda, alguns anos antes do que imaginamos. A verdade é que o nascimento de Jesus de Nazaré, figura central do cristianismo, permanece envolto em um dos maiores mistérios da história. Apesar de celebrado há séculos no dia 25 de dezembro, historiadores afirmam que é impossível saber com precisão quando ele nasceu.

A única base disponível para tentar reconstruir esse momento são os evangelhos bíblicos escritos décadas após a morte de Jesus por pessoas que não conviveram com ele e cujo interesse principal não era seu nascimento, mas sua morte e ressurreição. Ainda assim, essas narrativas oferecem pistas que ajudam a situar Jesus em um período histórico específico.

Evangelhos: as únicas pistas

Segundo o historiador espanhol Javier Alonso, em entrevista à BBC News Mundo, as principais referências sobre o nascimento de Jesus estão nos Evangelhos de Mateus e Lucas, escritos entre os anos 80 e 90 d.C. Os textos mais antigos do Novo Testamento, como o Evangelho de Marcos e as cartas atribuídas ao apóstolo Paulo, simplesmente ignoram a infância de Jesus.

Mateus afirma que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande governante que morreu no ano 4 a.C. Com isso, historiadores estimam que o nascimento teria ocorrido entre os anos 7 e 4 a.C. O detalhe curioso é que, se isso estiver correto, Jesus teria nascido “antes de Cristo”, um paradoxo criado séculos depois por erros de cálculo.

Lucas, por sua vez, associa o nascimento ao famoso censo conduzido por Públio Sulpício Quirino, governador romano da Síria. Esse recenseamento é citado por outras fontes históricas e ocorreu no ano 6 d.C., o que cria uma diferença de pelo menos dez anos entre as duas versões.

Um nascimento escrito décadas depois

Para o professor Antonio Piñero, especialista em cristianismo primitivo, há outro fator decisivo sobre os capítulos que narram a infância de Jesus podem ter sido acrescentados aos evangelhos posteriormente, já no início do século 2. Isso explicaria contradições internas e o fato de personagens citados nos capítulos seguintes parecerem desconhecer os acontecimentos narrados antes.

Quando esses relatos foram escritos, mais de 60 anos já haviam se passado desde a morte de Jesus, e o cristianismo ainda era uma fé minoritária, com cerca de 3 mil seguidores espalhados em pequenas comunidades.

Mateus ou Lucas: quem faz mais sentido?

Ao cruzar os dados históricos, como o governo de Pôncio Pilatos (entre 26 e 36 d.C.) e o início da pregação de Jesus no 15º ano do imperador Tibério, os pesquisadores concluem que a versão de Mateus é a mais coerente cronologicamente. Isso colocaria o nascimento de Jesus por volta de 4 a.C., nos últimos anos do reinado de Herodes.

Já o censo de Quirino, segundo Alonso e Piñero, teria sido um recurso narrativo usado por Lucas para levar Maria e José até Belém, cidade que, segundo a profecia bíblica de Miquéias, deveria ser o local de nascimento do messias.

Por que ninguém se importou com o nascimento?

A ausência de detalhes sobre a infância de Jesus nos textos mais antigos não é acaso. Para os primeiros cristãos, a mensagem central era a morte e a ressurreição, sinais da vitória sobre o pecado e a morte. Acreditava-se, inclusive, que o Reino de Deus chegaria de forma iminente, o que tornava irrelevante registrar detalhes biográficos.

Somente quando o tempo passou e a expectativa do fim imediato não se cumpriu é que surgiu a necessidade de escrever sobre a vida de Jesus curiosamente, de trás para frente: primeiro a morte, depois a vida pública, e só mais tarde o nascimento.

O erro que criou o ano 1

A data que marca o início da era cristã também nasceu de um equívoco. No século 5, o monge Dionísio, o Magro, foi encarregado pelo papa de calcular a data da Páscoa e, consequentemente, o nascimento de Jesus. Sem acesso às fontes modernas, ele determinou que o nascimento ocorreu no ano 753 após a fundação de Roma, fixando o ano seguinte como o ano 1 da era cristã.

O erro foi perpetuado e adotado oficialmente ao longo dos séculos.

Por que 25 de dezembro?

O dia 25 de dezembro não tem relação direta com o nascimento histórico de Jesus. A data foi estabelecida antes mesmo de Dionísio, no contexto da consolidação do cristianismo como religião oficial do Império Romano, no século 4.

Naquele dia, os romanos celebravam o festival do “Sol Invicto”, ligado ao solstício de inverno, quando os dias começam a ficar mais longos. A Igreja, em vez de eliminar a celebração pagã, optou por ressignificá-la: o “sol invencível” passou a ser Cristo.

Além disso, dezembro também abrigava a Saturnália, festa marcada por troca de presentes, enfeites e celebrações costumes que atravessaram séculos e chegaram até o Natal moderno.

O que, afinal, pode ser considerado certo?

Com tantas versões diferentes, os historiadores concordam apenas em alguns pontos: Jesus provavelmente nasceu na Galileia, seus pais se chamavam Maria e José, e pertenciam a uma família profundamente religiosa. Fora isso, tudo permanece no campo das hipóteses.

“São textos que beiram o mitológico”, resume Javier Alonso.

Ainda assim, mesmo sem uma data exata, o nascimento de Jesus se tornou um dos eventos mais celebrados do planeta não pela precisão histórica, mas pelo significado simbólico que atravessou séculos, culturas e crenças.

Fonte: Brenda Hayashi, Globo.com – 25/12/2025

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