segunda-feira, outubro 6, 2025
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EXCLUSIVO: supercomputador 6 vezes mais rápido vai mudar previsão de chuvas e desastres no Brasil

Novo supercomputador amplia o detalhe das previsões e será usado para antecipar desastres e orientar decisões na energia, agricultura e saúde. Investimento para todo o sistema foi de R$ 200 milhões.

Se você já se pegou pensando que a previsão do tempo errou e não choveu ou o sol prometido não apareceu onde você mora, isso pode estar com os dias contados. O Brasil tem, agora, um novo supercomputador responsável por gerar os alertas meteorológicos do país. A promessa é de um nível de precisão inédito: será possível saber, por exemplo, em quais regiões de um bairro vai chover e em que momento.

💻 Por que um supercomputador? A previsão é feita com base em um volume imenso de dados, que vêm não só de satélites, mas também de aviões comerciais, navios, balões de monitoramento e estações espalhadas pelo planeta. Todas essas informações são processadas por uma máquina que faz mais de trilhões de cálculos por segundo — algo impossível de ser feito por equipamentos comuns.

Até agora, o Brasil operava com o Tupã, em funcionamento desde 2010. Ele já deveria ter sido aposentado, e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável pelo sistema, vinha alertando desde 2021 para o risco de um apagão meteorológico por falta de investimento.

Esse novo equipamento foi adquirido em 2024, com um investimento de R$ 200 milhões, e está em fase de testes no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), em Cachoeira Paulista (SP).

A equipe do g1 foi a primeira a entrar no centro para conhecer a máquina que promete dar ao país uma capacidade inédita em tecnologia. Com ela, o Brasil passa a contar com:

  • Processamento 6 vezes mais rápido de dados meteorológicos e climáticos;
  • Previsões geradas em minutos — antes, levavam até 3 horas;
  • Capacidade de armazenamento 24 vezes maior, permitindo modelos mais detalhados;
  • Precisão para indicar a hora e o minuto em que eventos devem ocorrer.

➡️ E mais do que isso: essa tecnologia pode salvar vidas. O novo sistema é crucial para um país que enfrenta eventos climáticos cada vez mais extremos.

No caso de São Sebastião, por exemplo, onde dezenas de pessoas morreram após uma chuva intensa em 2023, o Cemaden (órgão do governo que usa dos dados do Tupã para alerta de desastres) sabia com dois dias de antecedência que a região seria afetada.

❌ O problema era a falta de precisão para indicar exatamente quando a chuva começaria e qual parte do município seria mais atingida. Agora, com a nova estrutura, isso passa a ser possível.

Mais de trilhões de cálculos por segundo: como o novo supercomputador funciona

O novo supercomputador do Brasil está instalado no interior de São Paulo e será o coração da previsão meteorológica no país. Mesmo em fase de testes, já funciona sem parar: 24 horas por dia, 7 dias por semana, recebendo informações e realizando mais de trilhões de cálculos por segundo.

➡️ A base da previsão do tempo é entender o que está acontecendo agora pela sua janela: há nuvens? Tem sol? Está garoando? Está ventando? Quanto vento? Essas respostas chegam de dezenas de fontes espalhadas de Norte a Sul do país, com dados enviados por satélites, aviões comerciais, navios e estações meteorológicas.

💻 Todo esse volume de informação chega ao supercomputador, que armazena os registros e os processa em modelos matemáticos. A partir disso, é possível projetar o que deve acontecer nas próximas horas, dias, semanas e até meses.

Antigo supercomputador que teve risco de apagão meteorológico por falta de investimento — Foto: Divulgação/Inpe
Antigo supercomputador que teve risco de apagão meteorológico por falta de investimento — Foto: Divulgação/Inpe

Até então, o antigo computador realizava esse processamento apenas duas vezes ao diaAgora, isso será feito a cada seis horas e permite acompanhar as mudanças na atmosfera quase em tempo real. A operação da máquina e o acesso às informações são públicos e geridos por órgãos do governo federal.

Segundo Ivan Márcio Barbosa, coordenador de infraestrutura de dados e supercomputação do Inpe, o Brasil já tinha capacidade técnica para fazer a melhoria, mas faltava o investimento no equipamento.

O antigo supercomputador já não supria as necessidades do Inpe nem a demanda da sociedade brasileira. A gente tinha dados suficientes, capacidade de pesquisa para desenvolver e melhorar os modelos, mas faltava um sistema de supercomputação capaz de atender à população.

— Ivan Márcio Barbosa, coordenador de infraestrutura de dados e supercomputação do Inpe

➡️ E essa precisão importa. A previsão não serve apenas para saber se vai chover ou fazer sol. Ela ajuda a identificar se há risco para a população, se uma plantação precisa de proteção, se os reservatórios exigem mais gestão ou se é preciso se preparar para uma seca severa.

Para funcionar, o equipamento exige uma infraestrutura robusta. Ele está instalado dentro de um dos maiores datacenters do país e tem alto consumo de água e energia. O custo anual só para mantê-lo ligado é de R$ 6 milhões ao ano.

Datacenter onde está a máquina exige infraestrutura de energia e refrigeração — Foto: Giaccomo Voccio/g1
Datacenter onde está a máquina exige infraestrutura de energia e refrigeração — Foto: Giaccomo Voccio/g1

Por isso, além da máquina, o investimento feito pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com financiamento pela FINEP, ainda inclui a criação de um centro de energia solar que vai abastecer toda a operação. A estrutura deve começar a ser implantada em 2026.

Como isso vai mudar a previsão do tempo?

O novo supercomputador permite que a previsão chegue a um nível de detalhe inédito no país. Com a nova capacidade de processamento, será possível saber não apenas se vai chover em uma cidade, mas em qual bairro. E até em que hora e minuto uma chuva ou uma nuvem de fumaça vão atingir determinada área.

🌦️ Para entender essa mudança, é preciso olhar para a resolução da previsão:

  • ➡️ Hoje, o sistema opera com uma área de 7 km². Isso significa que tudo dentro desse quadrado de 7 quilômetros recebe a mesma informação meteorológica. Mesmo que uma parte esteja sob nuvens pesadas e outra não, o modelo trata tudo como se fosse igual.

É por isso que, às vezes, a previsão acerta a chuva para a cidade, mas ela não acontece no seu bairro. O alerta está correto para a região, mas ainda falta precisão local.

  • ➡️ Com o novo supercomputador, esse cenário muda: os modelos passam a operar com resolução de 3 km² e, em regiões metropolitanas, a previsão será feita com precisão de até 1 km².

“A gente vai conseguir saber com uma riqueza de detalhes que, em algumas regiões, vamos poder dizer em que rua chove e em qual não. Vamos poder indicar o momento exato e acompanhar o que acontece quando uma chuva chega quase que em tempo real, observando se ela vai aumentar ou diminuir, por exemplo.

— Gilvan Sampaio, especialista em meteorologia e pesquisador do Inpe

Atualmente, o Tupã ainda está funcionando, enquanto a nova máquina passa por uma fase de teste e transição dos sistemas para começar a operar. A data prevista para entrar em operação é a primeira semana de dezembro deste ano.

Buscas por desaparecidos em meio à lama de um deslizamento que derrubou casas na Vila do Sahy, em São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1
Buscas por desaparecidos em meio à lama de um deslizamento que derrubou casas na Vila do Sahy, em São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

Muito além da previsão

Essa nova precisão vai fazer diferença em casos como os de São Sebastião e do Rio Grande do Sul. As duas chuvas estavam previstas, mas não com exatidão sobre as áreas mais afetadas nem sobre o volume de água.

Além de ajudar com os alertas de desastres, o novo supercomputador tem um papel estratégico em diversos setores da economia.

Agro depende dos dados e setor representa 23% do PIB nacional — Foto: Getty Images via BBC
Agro depende dos dados e setor representa 23% do PIB nacional — Foto: Getty Images via BBC

A atualização também vai aprimorar a chamada previsão sazonal — aquela que olha para os próximos três meses. Esses dados são essenciais para orientar a tomada de decisões em diferentes frentes. Por exemplo:

  • ➡️ Agropecuária: os dados vão indicar o melhor momento para o plantio, prever com ainda mais antecedência secas que podem comprometer a safra e apoiar estratégias de proteção contra perdas. O setor, que representa uma fatia de 23% do PIB nacional, depende cada vez mais de previsões confiáveis.
  • ➡️ Energia: as informações geradas orientam o uso das hidrelétricas e termelétricas, o que é fundamental em tempos de crise nos reservatórios. Será possível prever com mais antecedência e precisão os volumes de chuva que afetam diretamente o custo da energia.
  • ➡️ Saúde pública: o sistema vai monitorar o movimento de fumaça vinda de queimadas dentro e fora do país e poderá ajudar a emitir alertas antecipados às autoridades sanitárias sobre as áreas mais atingidas.

💻 Há ainda um ponto importante: o supercomputador também vai rodar os chamados modelos climáticos, que são aqueles que mostram as tendências de longo prazo. Enquanto a previsão do tempo olha para os próximos dias, a do clima busca entender os padrões das próximas estações, dos próximos anos e até das próximas décadas.

Em um cenário de mudanças climáticas, esses dados são cruciais. Com eles, o Brasil poderá antecipar os efeitos do aquecimento global e planejar com base em evidências ações de mitigação e adaptação.

De acordo com o Inpe, o investimento é um salto de tecnologia para o país e que o supercomputador deve atender novos projetos, o que inclui, por exemplo, o uso de inteligência artificial na previsão de mudanças climáticas no país. Com o computador antigo, isso não era possível.

O Inpe foi pioneiro em um supercomputador. Hoje, temos aqui previsões inéditas na América do Sul. Esse salto de tecnologia vai abrir portas para que o país avance não só na previsão, mas em outras áreas.

— Ivan Márcio Barbosa, coordenador de infraestrutura de dados e supercomputação do Inpe

A máquina ainda não tem um nome, que vai ser escolhido em votação popular em um campanha no site do Inpe.

Fonte: Poliana Casemiro, g1 – 05/10/2025 

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