Em entrevista a agências internacionais em Belém, presidente comentou a operação para cumprir mandados de prisão contra integrantes da facção Comando Vermelho. Mais de 120 pessoas morreram.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta terça-feira (4) que legistas da Polícia Federal participem de investigação sobre a operação policial que matou 121 pessoas no Rio de Janeiro na semana passada, incluindo quatro policiais. Lula disse ainda que a operação resultou em “matança”.
Na última terça-feira (28), o governo do Rio de Janeiro realizou uma operação que mirou a facção criminosa Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha. Foi a mais letal da história do estado.
“Vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação. Porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve matança”, disse o presidente em entrevista a Associated Press e Reuters, durante viagem a Belém (PA).
Lula explicou que o governo está articulando para que legistas da Polícia Federal participem do processo de investigação sobre as mortes durante a atividade policial. O STF fará uma audiência nesta quarta-feira (5) para tratar do caso.
“Nós estamos tentando essa investigação. Inclusive estamos tentando ver se é possível os legistas da policia federal participarem do processo de investigação da morte, como é que foi feito, porque tem muitos discursos, tem muita coisa”, argumentou.
“Eu acho que é importante a gente verificar em que condições ela [a operação] se deu, porque até agora nós temos uma versão contada pela policia, contada pelo governo do estado e tem gente que quer saber se tudo aquilo aconteceu do jeito que eles falam ou se teve alguma coisa mais delicada na operação”, continuou Lula.
No dia seguinte à operação, o governador do Rio, Claudio Castro (PL), disse que a operação “foi um sucesso” e que as únicas vítimas foram os quatro policiais que morreram nos confrontos.
A situação no Rio gerou mobilização no governo. Os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial) viajaram ao estado na última semana para se reunir com o governador.
Castro está em Brasília nesta terça-feira (4), também para ações relacionadas ao tema.
“O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, as pessoas podem considerar um sucesso, mas do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa”, prosseguiu Lula, ainda durante a conversa com agências internacionais.
Fala anterior de Lula
Na manifestação desta terça, Lula faz a primeira crítica direta à operação.
Na semana passada, logo depois a ação policial, o presidente publicou nas redes sociais uma mensagem defendendo o combate ao crime organizado, mas evitou criticar a atuação do governo do Rio ou das forças de segurança estaduais.
“Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, disse, à época.
Ele também defendeu a PEC da Segurança Pública, proposta do governo federal que tramita no Congresso e tem como principal objetivo fortalecer o combate integrado ao crime organizado. O governo também enviou o chamado Projeto Antifacção para apreciação do Legislativo.
Opinião pública
Uma pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira (3) mostra que 85% dos moradores do estado do Rio de Janeiro apoiam aumentar a pena de prisão para condenados de homicídio a mando de organizações criminosas.
A maior parte dos cidadãos do estado aprova a operação realizada (64%). Outros 72% concordam em enquadrar o crime organizado como organização terrorista.
STF acompanha o caso
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou no domingo (2) que o governo do Rio de Janeiro preserve “todos os elementos materiais” relacionados à execução da operação policial nas comunidades da Penha e do Alemão, “como perícias e respectivas cadeias de custódia” — que garantem a autenticidade e a validade das provas.
O objetivo da preservação desses elementos é possibilitar “o exercício do controle e averiguação” da atuação policial pelo Ministério Público, devendo ser garantido o acesso da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro a esses elementos, escreveu o magistrado.
Moraes, relator da APDF das Favelas — processo no qual o Supremo fixou condições para as operações policiais em favelas do Rio —, atendeu a um pedido da Defensoria Pública da União (DPU) feito na quinta-feira (30).
Fonte: g1 — Brasília – 04/11/2025


