terça-feira, novembro 4, 2025
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Mundo caminha para até 2,5°C de aquecimento até o fim do século, alerta ONU; entenda

Mesmo após dez anos do Acordo de Paris, novos compromissos climáticos mal reduzem as projeções de aquecimento global. ONU diz que o planeta também deve ultrapassar 1,5°C já na próxima década.

O mundo continua caminhando para um aumento de temperatura entre 2,3°C 2,5°C até o fim do século, mesmo que todos os compromissos climáticos atuais sejam cumpridos.

O alerta é do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que vê o planeta cada vez mais distante da meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

🌡️ENTENDA: Essa meta de 1,5°C foi estabelecida pelo Acordo de Paris em 2015 para evitar impactos extremos do clima, como secas, elevação do mar e colapso de geleiras. Estudos recentes, porém, mostram que o mundo pode já ter ultrapassado esse ponto crítico.

A avaliação, divulgada nesta terça-feira (4), mostra que apenas 60 países, responsáveis por 63% das emissões globais de gases de efeito estufa, atualizaram suas metas climáticas nacionais (as chamadas NDCs) até o fim de setembro de 2025.

Todos os signatários do Acordo de Paris tinham a obrigação de revisá-las neste ciclo, mas a ONU afirma que o resultado ficou “muito aquém do necessário”.

📝ENTENDA: Essas metas são o principal instrumento do Acordo de Paris para enfrentar a crise climática. A NDC atual do Brasil, por exemplo, inclui a meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 53% até 2030 e zerar as emissões líquidas até 2050.

Ainda segundo a ONU, mesmo as novas promessas não foram suficientes para alterar de forma significativa as projeções de aquecimento.

Por que cada grau importa? — Foto: Gui Sousa/Arte g1
Por que cada grau importa? — Foto: Gui Sousa/Arte g1

As estimativas caíram apenas de 2,6–2,8°C em 2024 para 2,3–2,5°C agora, uma diferença de poucos décimos de grau.

Segundo o próprio relatório, essa redução modesta se deve, em parte, a mudanças metodológicas nas análises, e não a ações concretas.

Além disso, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, prevista para janeiro de 2026, deve anular cerca de 0,1°C desse avanço simbólico.

A ONU alerta que o cenário coloca em risco a principal meta global de contenção do aquecimento.

A “lacuna de emissões”, termo que dá nome ao relatório, se refere à diferença entre o que os países prometeram cortar e o que seria necessário para manter o aumento da temperatura dentro do limite de 1,5°C.

Segundo o Pnuma, essa lacuna permanece praticamente inalterada desde 2015, quando o acordo foi assinado.

“As nações tiveram três tentativas para cumprir as promessas feitas no âmbito do Acordo de Paris, e elas erraram o alvo”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma.

“Embora os planos climáticos nacionais tenham alcançado algum progresso, ele está longe de ser rápido o suficiente, e é por isso que ainda precisamos de reduções de emissões sem precedentes em um prazo cada vez mais curto, com um cenário geopolítico cada vez mais desafiador.”

Limite de 1,5°C praticamente inevitável

O relatório de 2025 confirma também que o planeta bateu um novo recorde de emissões. Em 2024, o total global chegou a 57,7 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa (CO₂ equivalente), um aumento de 2,3% em relação ao ano anterior, mais de quatro vezes a média de crescimento da década de 2010.

Esse salto, segundo o Pnuma, foi impulsionado por todos os setores da economia e todos os principais gases, mas teve um fator decisivo: o desmatamento e as mudanças no uso da terra, responsáveis por mais da metade do aumento das emissões.

As emissões de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis também cresceram 1,1%, um reflexo do aumento da demanda energética e da lentidão da transição para fontes limpas.

Entre os grandes emissores, o G20 continua concentrando 77% das emissões globais e registrou crescimento de 0,7% em 2024.

“Olhando o curtíssimo prazo, de ganhos financeiros que não consideram os custos ambientais e nem os limites do planeta, seguimos para um cenário distópico a longo prazo”, afirma Alexandre Prado, Líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.

“Sabemos as causas e temos consciência de que cada fração de grau evitada reduz a escalada dos danos, perdas e impactos que estão afetando todas as nações — atingindo com mais intensidade os mais pobres e vulneráveis. Conhecemos os caminhos de como mudar essa perspectiva”.

A Indonésia teve o crescimento proporcional mais acelerado. O relatório ressalta que sete países do G20 devem cumprir suas metas para 2030 com as políticas atuais, mas nove estão fora do rumo, e poucos têm planos concretos para alcançar a neutralidade de carbono até a metade do século

Justamente por isso, a ONU alerta que o mundo ultrapassará temporariamente 1,5°C já na próxima década, e reverter esse patamar será extremamente difícil.

O documento calcula que seria necessário remover e armazenar cerca de cinco anos das emissões globais atuais de dióxido de carbono para reduzir apenas 0,1°C de aquecimento.

Esse processo dependeria de tecnologias caras e ainda incertas, o que torna improvável um retorno rápido a níveis mais seguros de temperatura.

O Pnuma explica que, para alinhar-se ao Acordo de Paris, as emissões globais deveriam cair 25% até 2030 para um cenário de 2°C e 40% para 1,5°C, em comparação com os níveis de 2019.

Em vez disso, as novas metas nacionais, mesmo se totalmente implementadas, levariam a uma redução de apenas 15% até 2035, valor três vezes menor que o necessário.

“Os países não estão apenas falhando em cumprir o que prometeram. Eles estão falhando em prometer o suficiente”, resume o relatório.

O texto também chama atenção para o que define como “dupla lacuna”: além da diferença entre o que foi prometido e o que seria necessário, há uma lacuna de implementação, já que boa parte dos compromissos feitos em 2015 e 2020 sequer saiu do papel.

A ONU estima que muitos países estão longe de cumprir suas metas de 2030, o que agrava o cenário para 2035 e para as décadas seguintes.

Apesar do quadro sombrio, o relatório aponta que o mundo está mais bem equipado tecnologicamente para agir do que estava há dez anos. O custo da energia solar e eólica despencou, e as soluções de baixo carbono são mais acessíveis. “Mas o problema não é técnico, é político”, adverte o documento.

Consequências do aquecimento global — Foto: Gui Sousa/Arte g1
Consequências do aquecimento global — Foto: Gui Sousa/Arte g1

O texto cita “falta de vontade política”, “limitações financeiras” e “desigualdade na responsabilidade climática” como principais entraves à ação.

“As ferramentas estão disponíveis, mas o clima político global é desafiador”, diz o Pnuma, em referência às crises internacionais e à falta de cooperação financeira entre países ricos e pobres.

O relatório apresenta ainda um cenário alternativo, chamado de “ação de mitigação rápida a partir de 2025”, no qual as emissões globais começariam a cair imediatamente.

Esse cenário limitaria o “excesso” de aquecimento a 0,3°C, com 66% de probabilidade de o planeta voltar a 1,5°C até 2100. Para isso, as emissões teriam de cair 26% até 2030 e 46% até 2035, combinando esforços tecnológicos e naturais de remoção de carbono.

Mas a própria ONU reconhece que alcançar essas metas exigiria uma coordenação sem precedentes e uma profunda reformulação do sistema financeiro global.

Pessoas tiram fotos do primeiro nascer do sol do ano em um parque em Seul, Coreia do Sul, em 1º de janeiro de 2023 — Foto: REUTERS/Kim Hong-Ji
Pessoas tiram fotos do primeiro nascer do sol do ano em um parque em Seul, Coreia do Sul, em 1º de janeiro de 2023 — Foto: REUTERS/Kim Hong-Ji

Fonte: Roberto Peixoto, g1 – 04/11/2025 

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