Após ser anunciada durante festival hindu , Aryatara Shakya foi carregada por familiares de sua casa, em um beco de Katmandu, para o palácio do templo em sua homenagem. Devotos fizeram fila para tocar os pés das meninas com a testa.
Uma menina de 2 anos foi escolhida como Kumari, uma deusa viva do Nepal conhecida como a “deusa virgem” nesta terça-feira (30).
Aryatara Shakya, de 2 anos e 8 meses, irá substituir Trishna Shakya, de 11 anos, que chegou à puberdade e agora passa a ser considerada uma mera mortal. Ela viveu no palácio do templo de Kumari nos últimos oito anos, desde os 3.
Após ser anunciada durante o festival hindu mais longo e significativo do país, o Indra Jatra, Aryatara foi carregada por familiares de sua casa, em um beco de Katmandu, para o palácio de templo.
Devotos fizeram fila para tocar os pés das meninas com a testa, o maior sinal de respeito entre os hindus da nação himalaia, e ofereceram flores e dinheiro a ela.
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A nova Kumari abençoará os devotos, incluindo o presidente do país, na quinta-feira (2).
“Ontem ela era apenas minha filha, mas hoje é uma deusa”, disse seu pai, Ananta Shakya, acrescentando que já havia sinais de que ela seria a deusa antes mesmo de seu nascimento. “Minha esposa, durante a gravidez, sonhou que era uma deusa e sabíamos que ela seria alguém muito especial.”
Kumaris são escolhidas entre os clãs Shakya da comunidade Newar, nativa do vale de Kathmandu, e reverenciadas por hindus e budistas
As meninas são selecionadas quando tem entre 2 e 4 anos, e devem ter pele, cabelos, olhos e dentes impecáveis. Também não devem ter medo do escuro.
A Kumari sempre se veste de vermelho, prende o cabelo em coques altos e tem um “terceiro olho” pintado na testa.
Ex-Kumaris enfrentam dificuldades para se adaptar à vida normal, aprender a fazer tarefas domésticas e frequentar escolas regulares. O folclore nepalês diz que os homens que se casam com uma ex-Kumaris morrem jovens, o que faz com que muitas meninas permaneçam solteiras.
Como funciona a escolha do Dalai Lama no Nepal
O Dalai Lama, líder do budismo tibetano, afirmou nesta quarta-feira (2) que irá reencarnar após sua morte, dando sequência à linhagem espiritual que dura séculos. Tenzin Gyatso completará 90 anos no domingo (6) e começou a dar sinais de como será o processo de sucessão.
▶️ Contexto: Os seguidores do Dalai Lama aguardavam há muito tempo uma declaração sobre a continuidade da religião. No passado, o atual chefe espiritual chegou a dizer que poderia ser o último a ocupar o posto. Agora, ele indica que a tradição continuará viva.
- O budismo tibetano acredita que o Dalai Lama seja uma manifestação de uma entidade superior conhecida como Avalokiteshvara ou Chenrezig.
- A tradição determina que, após a morte do Dalai Lama, os monges iniciem as buscas para encontrar a criança na qual o líder espiritual reencarnou.
- O primeiro Dalai Lama reconhecido viveu entre os séculos 14 e 15. O atual é o 14º a ocupar o cargo.
- Pela crença budista, o Dalai Lama pode escolher onde e quando irá reencarnar. Ele também representa a unidade do Tibete — que atualmente está sob administração chinesa.
- No contexto do anúncio desta quarta-feira está o desejo da China de determinar quem será a reencarnação do líder espiritual, em uma estratégia de ampliar o domínio sobre a região.
🙏 Ritual secular: “Dalai Lama” pode ser traduzido como “Oceano de Sabedoria”. Há séculos, a tradição budista tibetana define procedimentos para reconhecer sua reencarnação. Para isso, monges buscam uma série de sinais.
- Antes de morrer, o Dalai Lama costuma deixar instruções e pistas de como poderá ser novamente encontrado.
- Além das pistas, os monges procuram por crianças que tenham nascido na mesma época em que o líder budista morreu e que apresentem características físicas específicas.
- No caso do atual Dalai Lama, nascido em 1935, há relatos de que a equipe de busca procurava por sinais como orelhas grandes e marcas no corpo.
- Visões dos monges e outras profecias também podem ser usadas para guiar as buscas.
- A tradição também inclui interpretar a direção da fumaça da pira funerária do Dalai Lama anterior como um possível indício do local de nascimento da nova encarnação.
- As buscas costumam ser conduzidas por grupos de monges disfarçados.
👶 Quando uma criança é identificada como possível Dalai Lama, os monges entregam objetos que pertenceram ao líder anterior. Se o menino reconhecer corretamente esses itens ou pessoas próximas, isso é considerado um sinal de que ele é a reencarnação de seu antecessor.
O último reconhecimento
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Tenzin Gyatso foi identificado como possível Dalai Lama quando tinha apenas dois anos de idade, em 1937, e reconhecido oficialmente em 1939. À época, ele se chamava Lhamo Dhondup e vivia em uma pequena vila na região de Amdo, no Tibete — hoje parte da província de Qinghai, na China.
- Segundo a agência Reuters, naquela época, autoridades tibetanas enviaram comunicados a governos locais pedindo ajuda para identificar bebês do sexo masculino.
- Os relatos indicam que os monges buscavam características físicas específicas, como orelhas grandes, pernas com listras semelhantes às de tigre e palmas das mãos com o desenho de uma concha marinha.
✨ Sinais: De acordo com a biografia do Dalai Lama, os monges conseguiram encontrar o menino por meio de visões e uma série de indícios.
- Um monge sênior teve uma visão na qual via as letras tibetanas Ah, Ka e Ma flutuarem em um lago sagrado. Ele também viu um mosteiro de três andares com telhado turquesa, além de um caminho que levava até uma colina.
- O religioso interpretou que o Ah era uma referência à região de Amdo. Já o Ka poderia significar o mosteiro de Kumbum, que tinha três andares e um telhado turquesa.
- Monges foram até o local disfarçados e passaram a noite na casa de uma família da comunidade. Segundo a biografia, o líder do grupo brincou com a criança mais nova da casa, que o reconheceu.
- No dia seguinte, o grupo apresentou objetos semelhantes aos que pertenciam ao 13º Dalai Lama. A criança identificou corretamente os pertences e afirmou que eram seus.
- Por um período, o menino foi separado dos pais e levado a um mosteiro. Após ser reconhecido como líder espiritual, passou a estudar teologia e outras disciplinas, seguindo a tradição budista tibetana.
Em 1950, aos 15 anos, o Dalai Lama foi proclamado chefe de Estado do Tibete, em um momento de crescente tensão com a China. Nove anos depois, precisou se exilar na Índia diante da repressão militar chinesa. Desde então, nunca mais voltou ao território.
🕊️ No fim da década de 1980, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz “por defender soluções pacíficas baseadas na tolerância e no respeito mútuo” para preservar a herança cultural dos tibetanos.
O próximo Dalai Lama
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O atual Dalai Lama disse que começaria a dar sinais sobre quem será o próximo líder espiritual quando completasse 90 anos. O pronunciamento desta quarta-feira foi o primeiro movimento nesse sentido.
- No vídeo, ele confirmou que a tradição da reencarnação continuará.
- O líder também afirmou que seu sucessor nascerá fora da China e pediu que seus seguidores rejeitem qualquer nome indicado pelo governo chinês.
- No passado, o Dalai Lama declarou que poderia ser substituído por uma mulher na próxima geração.
- Samdhong Rinpoche, alto funcionário da fundação liderada pelo Dalai Lama, disse que o líder espiritual ainda não deixou instruções por escrito sobre a sucessão.
- Essa carta deve trazer as pistas da criança que será identificada no futuro como o 15º Dalai Lama.
🗣️ Em entrevista à BBC World Service, Thupten Jinpa, ex-monge e tradutor oficial do Dalai Lama desde 1985, explicou que o líder do budismo tibetano também indicou acreditar que nem todas as encarnações anteriores seriam necessariamente a mesma pessoa.
“Ouvi Sua Santidade dizer em algumas ocasiões que não acredita necessariamente que todos os 14 sejam a mesma pessoa”, contou. “Mas todos dentro dessa linhagem vão ter uma conexão especial [com] a linhagem dos Dalai Lamas.”
Fonte: Redação g1 — São Paulo – 01/10/2025