Prêmio traz de volta a visibilidade à crise política da Venezuela e deve ajudar a minar esforços de presidente para angariar popularidade interna diante de tensão com os EUA.
Mais do que conceder o Nobel da Paz deste ano à líder opositora María Corina Machado, o Comitê Norueguês deslegitimou o regime de Nicolás Maduro, que no ano passado se impôs como vencedor das eleições sem apresentar as atas de votação. O prêmio também joga nova luz à eterna crise política venezuelana, esvaziada por outros imbróglios internacionais.
A justificativa do comitê para premiar a ativista política — “uma mulher que mantém a chama da democracia via em meio à crescente escuridão” — traduz uma reprimenda a Maduro, há 12 anos no poder, em seu terceiro mandato consecutivo.
“María Corina Machado sempre falou pelos direitos humanos, pelo povo venezuelano. Ela é o equilíbrio contra os tiros (do regime Maduro)”, afirmou o presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Jorgen Watne Frydnes.
Atualmente na clandestinidade, María Corina tem longa estrada na oposição ao chavismo. Filha de um empresário de metalurgia, com raízes conservadoras, ela foi descrita por Hugo Chávez como uma boa burguesa. Ganhou importância ao desafiar Maduro, como sua principal adversária política nas eleições de 2024.
Escolhida nas primárias, com 90% dos votos, ela parecia unificar a fragmentada rede opositora contra o presidente e arrastava multidões no país em que as instituições estatais foram esvaziadas e são controladas pelo regime.
A reação para miná-la foi imediata. A Controladoria-Geral da União a desqualificou para concorrer, tornando-a inelegível. O candidato substituto da oposição, Edmundo González Urrutia, seguiu adiante com a campanha, sempre com María Corina na retaguarda.
Respaldada por observadores internacionais, a oposição reivindicou a vitória nas eleições, com vantagem de 70% dos votos sobre Maduro. A despeito dos protestos pela falta de transparência e do não reconhecimento por boa parte da comunidade internacional, o regime se consolidou no poder, prendendo mais opositores.
González está exilado na Espanha, e María Corina, que é acusada pela Procuradoria-Geral da Venezuela por apoiar as sanções dos EUA contra a Venezuela, passou a viver escondida. A líder da oposição foi agraciada, no ano passado, com dois prêmios importantes de direitos humanos: o Sakharov —a mais alta distinção da União Europeia— e o Václav Havel, do Conselho da Europa.
Ambos não se comparam à visibilidade do Nobel da Paz. Especialmente num momento em que Maduro está sob pressão do governo Trump, que qualifica o regime como um Estado narcotraficante e posicionou navios de guerra no Mar do Caribe, perto da costa venezuelana. De antemão, o prêmio à sua principal opositora deve ajudar a minar os esforços que o ditador vem fazendo para angariar popularidade às custas da ofensiva americana.
Fonte: Sandra Cohen – 10/10/2025