Conhecidos como “Povo do Mar”, os Sama Bajau Laut desenvolveram adaptações genéticas únicas que lhes permitem mergulhar a grandes profundidades e viver em perfeita harmonia com o ambiente aquático.
Nas águas mornas do Sudoeste Asiático, onde o horizonte parece não ter fim e o mar dita o ritmo da vida, existe uma comunidade que há séculos desafia os limites humanos. O povo Sama Bajau Laut, conhecido como “Povo do Mar”, faz do oceano não apenas morada, mas extensão do próprio corpo – um exemplo raro de como a natureza e a biologia humana podem se entrelaçar para garantir a sobrevivência.
Presentes em regiões da Indonésia, Malásia e Filipinas, os Bajau desenvolveram um modo de vida totalmente ligado à água. Suas casas são barcos de madeira que servem também como transporte, e o deslocamento constante segue as correntes e rotas de pesca. Em alguns pontos do arquipélago, criaram vilas sobre estacas. Pequenas comunidades flutuantes que parecem pairar entre o céu e o mar.

ADAPTAÇÃO GENÉTICA
A sobrevivência depende integralmente do oceano. A alimentação é baseada em peixes e frutos do mar capturados com mergulhos em apneia – técnica em que o pescador desce sem cilindros de oxigênio, confiando apenas na própria respiração. Essa prática, no entanto, não é apenas habilidade: é o reflexo de uma adaptação genética única.
Intrigados com a resistência desses mergulhadores natos, pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, investigaram como eles conseguem alcançar até 60 metros de profundidade e permanecer mais de dez minutos submersos. O resultado foi surpreendente: os Bajau têm um baço cerca de 50% maior que o de outros povos. O órgão funciona como um reservatório de glóbulos vermelhos oxigenados, liberados durante os mergulhos para prolongar o tempo de permanência debaixo d’água.
TEORIA DA EVOLUÇÃO
O estudo comparou os Bajau ao povo vizinho Saluan, de estilo de vida agrícola, e identificou uma diferença marcante entre os dois grupos. Segundo a revista National Geographic, a pesquisa se inspirou em estudos anteriores sobre focas, mamíferos que também desenvolveram mecanismos biológicos para resistir longos períodos submersos.

A descoberta reforça a teoria da evolução de Charles Darwin, segundo a qual os organismos mais bem adaptados ao ambiente têm maiores chances de sobreviver e transmitir suas características às próximas gerações. No caso dos Bajau, séculos vivendo exclusivamente sobre e sob o mar resultaram em modificações genéticas e fisiológicas que os transformaram em verdadeiros mestres dos oceanos.
O que muitos poderiam considerar um “dom sobrenatural” é, na realidade, a prova viva de que o corpo humano continua a se reinventar – moldado pelo tempo, pela necessidade e pelo fascínio eterno que o mar exerce sobre aqueles que o chamam de lar.
Fonte: Sales Fontenele, Correio 24 Horas – 24/10/2025


