Aprovações da PEC da Blindagem e da urgência para o PL da Anistia caracterizam o que o analista chama de ‘o pior momento da Câmara desde a redemocratização’.
A Câmara dos Deputados aprovou nesta semana dois projetos que, segundo analistas, beneficiam a classe política e distanciam a casa do povo: a PEC da Blindagem e a anistia aos golpistas do 8 de janeiro, que já está assumindo outra forma e sendo chamada de Projeto da Dosimetria.
Em entrevista ao podcast O Assunto desta sexta-feira (19), o cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV-SP, diz que as aprovações fazem parte de um “casamento perverso” entre parte do Centrão e o bolsonarismo.
“Esta aliança é uma aliança de ocasião. Um quer, na verdade, garantir a possibilidade de chegar ao poder e não respeitar a democracia. O outro quer continuar sendo a grande balança do poder, mas em troca ganhando direitos antirrepublicanos, uma capacidade de usar o recurso público e não ser investigado pela justiça, que nem em nenhuma democracia há. Portanto, esse casamento de ocasião é um casamento perverso para a sociedade brasileira”, afirmou Abrucio.
Para ele, a aliança tem objetivos distintos, mas complementares: de um lado, garantir espaço para práticas antidemocráticas; de outro, assegurar privilégios e imunidades que enfraquecem os mecanismos de fiscalização e punição de parlamentares.
A PEC da Blindagem foi aprovada em votação rápida e amplia proteções para deputados e senadores em processos cíveis e criminais. O texto é visto por entidades da sociedade civil e especialistas como um retrocesso para a democracia, ao dificultar a responsabilização de políticos e reforçar a criação de uma “casta” de parlamentares acima da lei.
Abrucio avaliou ainda que a aproximação entre Centrão e bolsonarismo, exemplificada pela nomeação de Eduardo Bolsonaro como líder da minoria, é sustentada pelo medo de investigações e pela tentativa de manter impunidade em casos que vão de irregularidades no uso de emendas parlamentares a crimes mais graves.
A proposta agora segue para o Senado, onde precisará de 49 votos em dois turnos de votação. A expectativa é que a resistência seja maior, já que a renovação de dois terços das cadeiras em 2026 torna a aprovação de medidas impopulares mais arriscada para os senadores.
Enquanto isso, a reação negativa da sociedade já se manifesta nas redes sociais, onde termos como “PEC da Bandidagem”, como foi apelidada a PEC da Blindagem — que os deputados chamam de PEC das Prerrogativas — chegaram aos assuntos mais comentados. Para Abrucio, a repercussão pode ter peso eleitoral.
“Muita gente do Centrão vai perder voto e quem se aliar a ele, inclusive candidatos presidenciais”, diz Abrucio. “Porque tem gente com medo do processo relacionado à garantia do Estado Democrático de Direito, na verdade, com medo de perder o seu grande líder eleitoral, que é o ex-presidente Jair Bolsonaro”, continua.
De acordo com o especialista, este é um descolamento que tem reflexos para a população e para os poderes Executivo e Judiciário, expondo uma tensão crescente em Brasília, o que chama de o “pior momento da Câmara desde a redemocratização”.
Fonte: Redação g1, g1 — São Paulo – 19/09/2025