Dados são do relatório “Demografia Médica no Brasil 2025”. Números apontam que país terminará o ano com 2,98 médicos para cada mil habitantes. Aumento foi de 100% em 12 anos.
Com maioria feminina pela primeira vez, o Brasil vai terminar o ano de 2025 com 635.706 médicos em atividade. A estimativa equivale a 2,98 profissionais para cada mil habitantes.
Os dados são do estudo Demografia Médica no Brasil 2025, divulgado nesta quarta-feira (30) pelo Ministério da Saúde e conduzido pelo Departamento de Medicina Preventiva de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). É a 15ª edição do levantamento.
Destaques do estudo Demografia Médica:
- Concentração nas capitais: As capitais seguem com alta densidade médica. As maiores razões por mil habitantes estão nas capitais do Sul (10,26), seguidas por Sudeste (7,33) e Nordeste (6,95).
- Desigualdade nos municípios do interior: Fora das capitais, a presença de médicos ainda é muito desigual. Enquanto o Sudeste tem 2,64 médicos por mil habitantes em cidades do interior, o Norte tem apenas 0,75 — com casos extremos como Roraima (0,13) e Amazonas (0,20).
- Crescimento acelerado: O número de médicos no Brasil dobrou em pouco mais de uma década. Em 2010 eram 304 mil; agora, são mais de 635 mil.
- Mudança de perfil: Pela primeira vez, as mulheres representam a maioria entre os médicos brasileiros, com 50,9% dos profissionais em atividade.
- Cotistas nas salas de aula: Um em cada 10 estudantes de medicina participam de programas de reserva de vagas e cotas.
- Projeção para 2035: Se mantido o ritmo atual, o Brasil terá 1,15 milhão de médicos em atividade em 2035 — o dobro do total registrado em 2023. A razão chegará a 5,2 médicos por mil habitantes.
- Comparação com outros países: A taxa de 2,98 médicos por mil habitantes, embora superior à de países como Estados Unidos e Coreia do Sul, ainda está abaixo da média da OCDE (3,70). Entre 47 nações analisadas, o Brasil ocupa a 33ª posição em densidade médica.
Brasil tem hoje uma média de 2,98 médicos por 1.000 habitantes
O Brasil tem hoje uma taxa média de 2,98 médicos por 1.00 habitantes (acima até de nações como Estados Unidos e Coreia do Sul). Mas o país continua abaixo da média de integrantes da OCDE, que foi de 3,70 profissionais para cada grupo em 2023. Ainda não existe um padrão mínimo global recomendado pela OMS para este indicador.
Dentre as 47 nações pesquisadas neste indicador, o Brasil tem a 33ª maior densidade.
Distribuição dos médicos deve continuar desigual
A oferta de médicos no Brasil deve seguir uma trajetória ascendente até 2035, alcançando 1.152.230 indivíduos ou 5,25 profissionais por 1 mil habitantes.
“Nos próximos 10 anos, essa projeção (de 1,15 milhão de médicos) é irreversível e conservadora (com a continuidade de abertura de cursos de medicina, o número tende a aumentar), em 2035 seriam 5,2 médicos por mil habitantes”, analisa Mário Scheffer, coordenador do estudo Demografia Médica no Brasil 2025.
Porém, a distribuição dos médicos poderá se manter bastante desigual entre os estados. Enquanto unidades federativas como Distrito Federal (11,83 médicos/1 mil habitantes) e Rio de Janeiro (8,11 médicos/1 mil habitantes) deverão seguir com índices elevados, outras regiões, especialmente na Amazônia Legal e no Nordeste, tendem a continuar com ofertas consideravelmente inferiores.
O Maranhão possivelmente terá a menor razão do país, com 2,43 médicos por mil habitantes, seguido pelo Pará (2,56) e Amapá (2,76).
O estudo projeta que as regiões Sudeste e Sul continuarão concentrando a maior parte dos médicos, com destaque para São Paulo (7,17 médicos/1 mil habitantes), Minas Gerais (6,62) e Rio Grande do Sul (6,68).
No Centro-Oeste, o Distrito Federal deverá manter uma densidade médica extremamente alta, quase o dobro da média nacional. Já estados como Mato Grosso (4,23) e Mato Grosso do Sul (5,62) tendem a permanecer abaixo da média brasileira, apesar do crescimento na oferta de médicos nesses estados.
Taxa de crescimento de médicos supera a da população
Na série histórica desde 2001, a taxa de crescimento de médicos superou a da população. A primeira iniciou em torno de 4% ao ano e manteve-se relativamente estável até 2010, quando passou a apresentar uma variação mais intensa, com picos superiores a 5% em alguns anos.
Por outro lado, a taxa de crescimento da população apresentou comportamento oposto. Teve início em valores superiores a 1% ao ano, exibindo a seguir tendência de queda contínua.

Concentração menor de médicos no interior
Atualmente, a distribuição de médicos fora das capitais evidencia diferença significativa na proporção de profissionais por 1 mil habitantes em comparação às médias estaduais e das capitais. O estado de São Paulo apresenta a maior concentração no interior, com 2,70 médicos por 1 mil habitantes
Confira o ranking 2025 da proporção de médicos por 1 mil habitantes por região, fora das capitais:
- Sudeste: 2,64
- Sul: 2,35
- Centro-Oeste: 1,58
- Nordeste: 0,95
- Norte: 0,75
“Temos uma distribuição desigual de médicos no país. É urgente pensarmos numa carreira de estado para os médicos”, afirma Heloísa Bonfá, diretora da faculdade de medicina da USP.
Todos os estados apresentam uma razão maior em suas capitais quando comparada à razão dos médicos atuando no interior.
- Minas Gerais tem um número absoluto expressivo de médicos trabalhando fora da capital (50.315), com uma razão de 2,66, pouco acima da média do Sudeste.
- No Sul, Santa Catarina (2,63) têm a maior razão.
- No Nordeste, a maior razão é observada na Paraíba (1,57), enquanto Sergipe (0,38) e Maranhão (0,60) apresentam as menores.
- No Norte, a maioria dos estados tem razão inferior a 1, com destaque para Roraima (0,13) e Amazonas (0,20), com os indicadores mais baixos.
- No Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul apresenta a maior razão (1,95), e Goiás (1,49), a menor.
Distribuição de médicos nas capitais
A razão de médicos nas capitais brasileiras revela uma concentração ainda maior em relação à média nacional e das respectivas unidades da Fede ração. No geral, a densidade de médicos nas capitais supera a média estadual, reforçando a concentração dos profissionais nas grandes cidades.
Confira o ranking de razão de médicos por 1.000 habitantes, nas capitais, por região, :
- Região Sul: 10,26 (a maior razão de médicos por 1.000 habitantes em suas capitais)
- Sudeste: 7,33
- Nordeste 6,95
- Centro-Oeste 6,76
- Norte 3,78
Mais mulheres na medicina
Estima-se que a participação das mulheres na profissão chegará a quase 56% em 2035, no Brasil. Dados da série histórica do censo dos estudantes de medicina já demonstram que a maioria dos alunos é composta por mulheres.
A crescente participação feminina na medicina é um fenômeno mundial. Atualmente, as mulheres representam a metade dos profissionais em atividade nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, com 38 países membros), assim como no Brasil.
Esse movimento, observado hoje nas faixas etárias mais jovens dos médicos já formados, se refletirá progressivamente em toda a profissão médica.
Em 2009, as mulheres representavam 40,5% da população médica, enquanto os homens ainda eram maioria, com 59,5%. Esse equilíbrio começou a se alterar nos anos seguintes e, em 2024, a proporção feminina alcançou 49,3%, sinalizando a paridade iminente.
A projeção para 2025 pode representar uma inflexão histórica: pela primeira vez, o número de médicas ultrapassará o de médicos, atingindo 50,9%. Esse crescimento se intensificará nos anos seguintes e, até 2035, estima-se que 55,7% dos profissionais no Brasil sejam mulheres.
Crescimento 1980 – 2024
Em apenas 12 anos, houve um crescimento de 100% no número de médicos no país.
- Em 1980, havia 113.495 médicos no país (população era de 121 milhões de habitantes);
- Até o ano 2000, o número de médicos quase dobrou: 205.296 (1,18 médicos por 1 mil habitantes);
- Em 2010, eram 304.406 médicos (população era de 194,7 milhões de habitantes);
- Em 2020, esse total saltou para 480.882, enquanto a população chegou a 209 milhões.
Na série histórica desde 2001, a taxa de crescimento de médicos superou a da população. A primeira iniciou em torno de 4% ao ano e manteve-se relativamente estável até 2010, quando passou a apresentar uma variação mais intensa, com picos superiores a 5% em alguns anos.
Por outro lado, a taxa de crescimento da população apresentou comportamento oposto. Teve início em valores superiores a 1% ao ano, exibindo a seguir tendência de queda contínua.
De acordo com o estudo, até meados da década de 2000, o crescimento ocorria de maneira mais gradual, com uma média de entradas de 10 mil médicos por ano e um saldo anual variando entre 8 mil e 12 mil profissionais.
A partir de 2010, esse ritmo se acelerou, com aumento progressivo anual. O ano de 2016 marcou uma inflexão nesse crescimento, com um saldo positivo de 23.860 médicos, valor que se mantém em ascensão na década seguinte.
Médicos cada vez mais jovens: 40,8 anos será a idade média em 2035
Observa-se um aumento expressivo no número de médicos mais jovens ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, as faixas etárias superiores perdem participação relativa.
Esse fenômeno é resultado direto da chegada de jovens formados nas escolas abertas nas duas últimas décadas.
- Em 2009, a idade média dos médicos era de 45,5 anos
- Já em 2024, a média foi de 44,8 anos.
- Para 2035, a idade média deverá cair ainda mais, para 40,8 anos.
Parcela de médicos especialistas no Brasil é de 59,1%
No Brasil, médicos generalistas são aqueles que não possuem residência médica ou título de especialista. No Brasil, a parcela de médicos especialistas é de 59,1%, abaixo da média dos países avaliados neste estudo (62,9%).
Os Estados Unidos lideram o ranking, com 87,9% de médicos especialistas, seguido de Bulgária, Itália, Grécia, Hungria e Croácia.
Fonte: Silvana Reis, Lígia Vieira, g1 – 30/04/2025