Nas últimas semanas, várias bandeiras foram hasteadas em cidades do Reino Unido. O ato, contudo, tem gerado controvérsia
Nas últimas semanas, duas bandeiras têm sido hasteadas em cidades, vilas e aldeias do Reino Unido: a da Inglaterra — que tem uma cruz vermelha em um fundo branco, chamada Cruz de São Jorge —, e a bandeira da União, também chamada de Union Jack — que representa o Reino Unido e é formada por uma combinação das bandeiras de suas quatro nações (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) nas cores branco, azul e vermelho.
Os grupos responsáveis por hasteá-las disseram à BBC que fazem isso por orgulho e patriotismo.
Mas outros afirmam que isso pode ser visto como uma provocação, em um momento de grande tensão no país em relação às questões imigratórias, principalmente dos solicitantes de asilo.
Como tudo começou
Em julho, as bandeiras da Cruz de São Jorge foram hasteadas por toda a Inglaterra como forma de apoiar a seleção feminina de futebol, as Lionesses, durante a Eurocopa.
As Lionesses ganharam a competição e comemoraram a vitória com um desfile em Londres.
Semanas depois, nos subúrbios de Birmingham, várias bandeiras — tanto da Inglaterra quanto do Reino Unido — foram vistas penduradas nos postes de luz das ruas.
A imagem das bandeiras, em fileiras, foi celebrada por muitos nas redes sociais.
Uma organização denominada Weoley Warriors (Guerreiros de Weoley, na tradução livre para o português), em homenagem ao subúrbio de Weoley Castle, disse ter sido responsável pelo ato.
Eles declararam ser um “grupo de ingleses orgulhosos com o objetivo comum de mostrar a Birmingham e ao resto do país o orgulho que temos da nossa história, liberdade e sucesso”.
Outras pessoas se inspiraram nas exibições de Birmingham e as bandeiras começaram a aparecer em postes de todo o país.
A controvérsia
As bandeiras estão sendo hasteadas em um momento de grande tensão em relação à imigração no país.
No último mês, vários protestos foram feitos de ambos os lados sobre o uso de hotéis para abrigar solicitantes de asilo.
Uma autoridade local de Epping, no sudeste da Inglaterra, ganhou uma ação da justiça para desalojar solicitantes de asilo de um hotel.
A sentença foi revogada após o governo do Reino Unido entrar com recurso.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/1/x/OdgClSSjuwfMgYNN1YCQ/2025-08-31t184906z-1259903644-rc2iigatvp2k-rtrmadp-3-britain-migration-protests.jpg)
As duas bandeiras já foram usadas como símbolos de movimentos políticos de extrema-direita ao longo dos anos, e alguns moradores de Birmingham se sentiram incomodados com a motivação daqueles que apoiava, os Guerreiros de Weoley.
Na cidade de Liverpool, um centro muçulmano encontrou uma bandeira da União amarrada às suas grades.
O local decidiu hastear a bandeira na janela, alegado que faziam isso para mostrar o orgulho de seus membros de serem britânicos.
Ibraham Syed, do Centro Wirral Deen, disse à BBC que, quando colocaram a bandeira em frente à mesquita, “a intenção era ofender”.
Mas ele afirma que, em vez de retirá-la e descartá-la, os líderes do centro sentiram que era a oportunidade perfeita para reafirmar sua lealdade ao país.
Malcom Farrow é vexilologista, ou seja, um especialista em bandeiras.
Ele explica que a razão pela qual alguns associam as bandeiras nacionais com grupos de extrema-direta se deve ao fato do Reino Unido nunca ter sido uma nação de hastear muitas bandeiras.
À BBC, ele disse que isso permitiu que “extremistas loucos” se apropriassem das bandeiras para transformá-las em símbolos das causas de seus protestos.
De onde surgiu a bandeira inglesa?
A bandeira em si tem uma história complexa.
O símbolo da cruz foi adotado por alguns governantes europeus com símbolo religioso ao abraçar o cristianismo.
Muitos historiadores acreditam que os ingleses começaram a usar a cruz vermelha sobre um fundo branco em bandeiras e vestimentas militares na Idade Média, quando se uniram às Cruzadas.
As Cruzadas foram uma série de campanhas militares realizadas por cristãos da Europa Ocidental, a partir do século XI para tomar o controle da “Terra Santa” do domínio islâmico.
Em particular, eles buscavam controlar Jerusalém e a região em volta.
‘Uma desculpa para xenofobia’
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/S/z/QgiteBSMG3QhWVQj5bhA/91be54b0-8826-11f0-9cf6-cbf3e73ce2b9.jpg.webp)
Há alguns dias, cerca de 50 manifestantes anti-imigração carregaram bandeiras da Inglaterra e do Reino Unido pelo centro da cidade de Bristol, no sudoeste do país.
Eles foram recebidos por uma contra manifestação ainda maior.
Um porta-voz da organização Bristol contra o Racismo e a Desigualdade declarou que, embora nem todas as bandeiras estejam sendo colocadas “com a intenção de dividir”, elas “estão fazendo com que alguns membros de minorias se sintam menos seguros”.
Além das bandeiras, também foram pintados sinais nas ruas para que se parecessem a bandeira da Cruz de São Jorge.
Uma mulher que mora perto de uma rotatória pintada em Kings Heath, em Birmingham, disse à BBC que o ato é “vandalismo puro e descarado”.
Um homem que também mora próximo ao local afirmou que “não é patriotismo, mas parece uma desculpa para a xenofobia”.
As autoridades locais declararam que apoiam o direito das pessoas de hastear as bandeiras, mas que as cruzes pintadas em infraestruturas e algumas bandeiras amarradas nas ruas serão retiradas por questões de segurança.
Ainda que há algumas semanas a Cruz de São Jorge fosse exibida por torcedores para apoiar a seleção feminina da Inglaterra, hoje hastear as bandeiras da Inglaterra e do Reino Unido adquiriu um significado muito diferente.
Fonte: Por Phoebe Hopson, Andrew Webb – 06/09/2025