segunda-feira, junho 23, 2025
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Sensor de glicose: o que é a tecnologia usada por filho de Marília Mendonça e quais os modelos disponíveis no Brasil

Equipamentos aprovados pela Anvisa custam até cerca de R$ 330, duram 14 dias e ajudam no controle da glicemia sem picadas diárias nos dedos. Especialistas explicam vantagens da tecnologia.

Após a repercussão do uso de um sensor de glicose pelo filho de Marília Mendonça, surgiram dúvidas e interpretações equivocadas sobre a tecnologia e sua disponibilidade no Brasil. O pai do menino Léo Dias Mendonça Huff, Murilo Huff, trouxe o aparelho para o filho de 5 anos dos Estados Unidos, mas o Brasil tem equipamentos disponíveis para monitorar a glicemia, mesmo de crianças.

Os sensores são relativamente caros para o Brasil, com custos que variam entre R$ 250 e R$ 330 e duram entre 14 e 15 dias. Por isso, as pessoas precisam de dois sensores por mês, pelo menos, segundo a diretora do Departamento de Dislipidemia e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e presidente da regional do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Joana Dantas.

“A recomendação é que a glicose seja feita cinco vezes ao dia, para quem tem diabetes tipo 1. Ou seja, antes de cada refeição: café, almoço, lanche, jantar e ceia, ou antes de dormir. E as crianças pequenas, sem dúvida, devem usar sensor de glicose”, destaca Dantas.

A diabetes tipo 1 é mais comum na infância, geralmente a partir de 5 anos de idade, até o começo da idade adulta. A doença é aguda, então os sintomas começam abruptamente, segundo Andressa Heimbecher, endocrinologista da SBEM-SP.

Abaixo, nesta reportagem, esclarecemos o que são os medidores contínuos de glicemia (CGMs), quem pode usá-los, como funcionam e o que a ciência realmente sabe sobre os gatilhos da doença.

1) O que são os sistemas de monitoramento contínuo de glicose (CGMs)?

São tecnologias que permitem medir os níveis de glicose no organismo de forma contínua, sem a necessidade de picadas nos dedos ao longo do dia. O sensor é aplicado sob a pele e envia leituras frequentes da glicose, ajudando a identificar oscilações perigosas e a manter os níveis mais estáveis.

2) Como esses aparelhos funcionam na prática?

O sensor é inserido sob a pele — todos no braço, mas uma marca também permite a inserção no abdômen — e mede a glicose no líquido intersticial (não diretamente no sangue). Ele armazena os dados que podem ser acessados por um leitor ou celular. Um dos modelos mais usados no Brasil, o FreeStyle Libre (Abbott), mostra gráficos das últimas 8 horas, indica tendências e não exige calibração diária. Cada sensor tem duração de até 14 dias.

3) Quais são os principais tipos de CGM?

Desde 2017, o Brasil conta com sensores de monitorização contínua (CGM) registrados na Anvisa. Os dois principais são:

  • Sistema Flash (SFMG): armazena dados que são lidos sob demanda, como o FreeStyle Libre.
  • CGM em tempo real (rt-CGM): envia alertas automáticos, útil para identificar rapidamente situações de risco.

4) Esses aparelhos são aprovados no Brasil?

Sim. O FreeStyle Libre é o principal CGM disponível no Brasil, aprovado pela Anvisa para uso a partir dos 4 anos e também durante a gravidez. Outro sistema, o Enlite Medtronic (rt-CGM), é autorizado para maiores de 2 anos. Outros modelos internacionais, como o Dexcom e o Eversense, não estão disponíveis no país.

5) Quais são os benefícios comprovados do uso de CGMs e quem tem prioridade?

Estudos mostram que o uso de CGMs:

  • Reduz episódios de hipoglicemia e o tempo em que a glicose está fora da faixa ideal.
  • Melhora o controle glicêmico de longo prazo (HbA1c).
  • Diminui internações por complicações como cetoacidose.
  • Melhora a qualidade de vida de pessoas com diabetes tipo 1, tipo 2 e diabetes gestacional.
  • No caso de gestantes com diabetes tipo 1, também foram observadas melhorias nos desfechos para o bebê, como menor risco de internação na UTI neonatal.
  • Oferecem aos médicos uma visão global do paciente, quando a glicose está subindo ou caindo, durante 24 horas.

“Todos os pacientes com diabetes tipo 1 devem monitorar a glicose, seja na ponta de dedo, seja com sensor. Mas como expliquei, o sensor é uma visão mais ampla. Eu consigo ver como é que foi a madrugada toda, se ficou alta ou baixa. Os sensores com visão no celular conseguem avisar se teve hipoglicemia, porque o celular apita e a pessoa acorda”, explica Dantas.

O uso é recomendado para qualquer pessoa com diabetes, a partir dos 4 anos. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), devem ter prioridade:

  • Pessoas com episódios graves de hipoglicemia.
  • Quem apresenta hipoglicemias noturnas.
  • Pacientes com controle inadequado da glicose, mesmo com tratamento.
  • Pessoas com internações frequentes por complicações do diabetes.

Fora do Brasil, o sensor é amplamente usado por quem tem diabetes tipo 1. Mas no Brasil os médicos tendem a indicar para os pacientes que têm hipoglicemia assintomática e hipoglicemia noturna, segundo Dantas.

Como o pâncreas não fabrica insulina, é precisa medir ou ter o sensor indicando para o médico entender o comportamento da glicose. E também para o paciente saber se está com hipoglicemia ou hiperglicemia e o que pode comer. Como é preciso contar carboidratos, essa contagem também é ajustada de acordo com a glicemia.

6) O SUS oferece CGMs?

Ainda não de forma ampla. O acesso a CGMs pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é limitado, e geralmente restrito a processos judiciais ou programas locais de saúde. Porém, isso pode mudar em breve.

7) Existe algum projeto de lei sobre o tema?

Sim. Está em análise no Senado o Projeto de Lei nº 3526/2024, que propõe garantir a oferta gratuita de medidores contínuos de glicose no SUS para quem tiver prescrição médica. O projeto busca corrigir desigualdades de acesso, já que atualmente esses dispositivos são acessíveis apenas a quem pode pagar — e os custos são altos. A proposta também argumenta que o uso dos CGMs pode reduzir custos com complicações, internações e tratamentos a longo prazo.

8) Quais são os sintomas comuns do diabetes tipo 1?

  • Sede excessiva
  • Urina frequente (inclusive à noite)
  • Fome constante
  • Perda de peso sem explicação
  • Irritabilidade ou sonolência
  • Infecções de repetição (urinárias, candidíase)
  • Náuseas e dor abdominal se houver cetoacidose

“Quando ocorre o diagnóstico, a criança geralmente fica extremamente doente, perde muito peso, desidrata e pode até ter convulsão, dependendo do caso. Ela faz muito xixi, bebe muita água, come muito e tem uma perda de peso importante. Realmente é um quadro muito grave quando abre”, afirma Heimbecher.

9)A doença também pode atingir adultos?

A maioria dos novos casos aparece entre a infância e a adolescência, quando o ataque autoimune às células β do pâncreas costuma ser mais rápido. No entanto, o processo pode começar mais tardiamente e há um número crescente de diagnósticos em adultos, muitas vezes classificados como “diabetes autoimune latente do adulto” (LADA), segundo a médica endocrinologista Carolina Janovsky.

Estudos de prevalência mostram que até 7-12 % dos adultos inicialmente tratados como tipo 2, na verdade, têm essa forma autoimune lenta.

10) O emocional costuma ser um gatilho, como ocorreu com o filho da Marília Mendonça?

O estresse intenso (luto, trauma e grandes infecções, por exemplo) pode precipitar a manifestação clínica ao acelerar a destruição autoimune já em curso, mas não inicia sozinho a doença, segundo Janovsky.

“Revisões recentes mostram associação entre eventos estressantes e antecipação do diagnóstico em indivíduos susceptíveis, mas o estresse não é considerado a causa primária”, explica.

Aproximadamente metade do risco total de diabetes tipo 1 vem de genes de susceptibilidade. Mesmo nos casos em que o estresse parece o estopim, testes de autoanticorpos quase sempre demonstram que a autoimunidade já estava ativa, e a maioria dos pacientes possui histórico familiar ou marcadores genéticos.

Janovsky acrescenta que somente 1 em cada 10 portadores de alto risco evolui para a diabetes tipo 1. Mas nenhuma intervenção de estilo de vida se mostrou capaz de impedir de forma consistente o aparecimento da doença.

Ensaios de prevenção com imunoterapia ou insulina oral em familiares de risco conseguiram apenas atrasar a progressão em subgrupos. Dieta, exercício e manejo do estresse melhoram a saúde geral, mas não aboliram o risco em estudos clínicos. Assim, qualidade de vida é sempre recomendada, mas ainda não há prova de que evite a doença em quem é geneticamente suscetível.

Fonte: Silvana Reis – 23/06/2025

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