Líder do PL na Câmara foi alvo de operação que apura desvio de cota parlamentar. Ele disse que o imóvel está declarado no seu Imposto de Renda e que venda ocorreu recentemente.
O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou nesta sexta-feira (19) que os cerca de R$ 400 mil, em dinheiro vivo, encontrados pela Polícia Federal em seu endereço têm origem na venda de um imóvel situado em Minas Gerais.
Em entrevista a jornalistas, o deputado do PL disse que recebeu o valor recentemente e que não depositou a quantia em um banco em razão da “correria de trabalho” e que isso foi um “lapso”.
“Eu vendi um imóvel e recebi, dinheiro lacrado, tudo normal. É uma venda de um imóvel que estará, já está o imóvel declarado no meu Imposto de Renda, tudo, não tem nada de ilegalidade quanto a isso”, afirmou Sóstenes.
🔎 O dinheiro foi encontrado durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão da Operação Galho Fraco, realizada nesta sexta-feira (19), que também mira o deputado Carlos Jordy (PL-RJ). Segundo a PF, há indícios de que as cotas parlamentares de Sóstenes e de Jordy foram desviadas e utilizadas para cobrir “despesas inexistentes” e “irregulares”.
🔎 No caso de Sóstenes, os investigadores informaram que o valor em espécie estava dentro de um saco preto, encontrado em um armário
Questionado sobre onde o dinheiro foi apreendido, Sóstenes disse, em um primeiro momento, não saber onde o montante estava, se em um flat que utiliza em Brasília ou em outro endereço. Depois, disse que estava no seu flat em Brasília. Segundo ele, são os contadores que cuidam de suas movimentações financeiras.
Sobre o motivo de não ter colocado o dinheiro em um banco, Sóstenes disse que não fez o depósito porque recebeu os R$ 400 mil recentemente e, com a correria do trabalho, não teve tempo.
“Com essa correria de trabalho, eu acabei não fazendo o depósito, mas eu faria, inclusive, parte dele penso em fazer outros negócios, acabei não fazendo o depósito. Foi simplesmente o lapso. Ninguém pega o dinheiro ilícito e bota em casa. Eu guardei dentro do guarda-roupa. Eu peguei o dinheiro, recebi e coloquei ali, simples isso. Estava no meu flat em Brasília”, disse.
O deputado disse que não lembra o dia exato em que fez a venda do imóvel. “Foi esses dias, na semana passada foi feito esse negócio da venda do meu imóvel”.
Ele também não deu muitos detalhes sobre o imóvel, disse apenas que fica em Minas Gerais.
Durante entrevista a jornalistas, o líder do PL também afirmou que é vítima de uma perseguição judicial e que não tem “nada a temer” na investigação sobre supostos desvios de recursos públicos.
“Quero dizer que essa investigação é mais uma investigação para perseguir quem é da oposição. Não tem nada de contrato ilícito, não tem nada de lavagem de dinheiro”, declarou o líder do PL.
“Sobre o valor encontrado em minha residência, trata-se de recurso lícito da venda de um imóvel de minha propriedade. Dinheiro de corrupção não aparece lacrado, identificado e recolhido oficialmente na sua residência. Quem quer viver de corrupção bota em outro lugar”, frisou.
Em relação à suspeita de que ele lava dinheiro com contrato de aluguel de carros, Sóstenes disse que “tem deputados da esquerda que alugam carros da cota parlamentar, que pagam R$ 7 mil, alguns até R$ 8 mil reais”.
Ele também disse que aluga um carro em Brasília e outro no Rio de Janeiro. “Eu tenho um carro no Rio de Janeiro à disposição que é o que determina a cota parlamentar. Eu uso lá, eu moro lá, minha filha… é o que determina a cota parlamentar”, disse.
Indícios de ‘despesas inexistentes’
A Polícia Federal encontrou indícios de que as cotas parlamentares de Sóstenesn Cavalcante e Carlos Jordy (PL-RJ) foram utilizadas para cobrir “despesas inexistentes” e “irregulares”.
💵 Cota parlamentar é um valor mensal em dinheiro que deputados e senadores recebem do orçamento público para cobrir despesas ligadas diretamente ao exercício do mandato, como passagens aéreas, hospedagens, alimentação, manutenção de escritório e contratação de consultorias, por exemplo. É um recurso extra, além do salário.
A informação está na decisão do ministro Flávio Dino, que autorizou a Operação Galho Fraco, realizada nesta sexta-feira. Policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos dois parlamentares e de assessores.
Conforme as investigações, o esquema de desvio da cota parlamentar contou com a participação de funcionários comissionados dos gabinetes de Sóstenes e Jordy e uso de empresas de fachada.
De acordo com informações da Polícia Federal, verbas de cota parlamentar eram sacadas e depositadas de forma fracionada, em quantias não superiores a R$ 9.999,00 – método conhecido como “smurfing”, comumente utilizado para despistar a fiscalização da aplicação dos recursos.
- OUTRO LADO: O deputado Carlos Jordy publicou uma nota e um vídeo nas redes sociais, dizendo que é vítima de perseguição e que a empresa citada é usada por eles desde o início do mandato.
🔎O “smurfing” (ou estruturação) é uma técnica de lavagem de dinheiro que consiste em fracionar grandes quantias de dinheiro em várias pequenas operações (saques ou depósitos) para evitar os sistemas de controle das autoridades financeiras.
Policiais federais citam conversas de WhatsApp entre os envolvidos que mencionam “pagamento por fora” por parte dos investigados.
“Há elementos indiciários de que os deputados federais Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy teriam desviado recursos da cota parlamentar por intermédio dos servidores comissionados – notadamente Adailton Oliveira dos Santos e Itamar de Souza Santana – utilizando, para o sucesso da empreitada, empresas como a Harue Locação de Veículos LTDA ME e a Amazon Serviços e Construções LTDA”, diz trecho da decisão de Flávio Dino.
“Tendo em vista elevados montantes movimentados pelos assessores parlamentares, é possível que haja outros vínculos ainda não identificados”, completa o documento, cujo sigilo foi retirado por Flávio Dino.
Segundo o despacho do ministro, diálogos localizados pela Polícia Federal indicam um conluio entre os funcionários Itamar de Souza Santana e Adailton Oliveira dos Santos, assessores dos parlamentares.
“Referida trama visaria conferir falsa aparência de legalidade à contratação da empresa Harue, que seria de propriedade de fato do próprio Itamar e gerenciada por seus familiares com o intuito de receber verbas da Câmara dos Deputados”, diz outro trecho da decisão de Dino.
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Fonte: Ana Flávia Castro, Elisa Clavery, Gustavo Garcia, g1 e GloboNews — Brasília – 19/12/2025


