Documento enviado à família pelo governo brasileiro detalha execução do músico, cujo corpo foi identificado 49 anos após o desaparecimento em Buenos Aires.
A família do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenório Jr., recebeu nesta semana o laudo oficial que aponta a causa da morte do músico. Segundo o documento, ele foi executado com cinco tiros.
O laudo foi enviado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, junto com uma cópia do inquérito policial argentino que reconhece a identidade do corpo enterrado como indigente em 1976. O documento mostra um tiro na cabeça, dois no braço esquerdo e três no tronco do músico.
A confirmação da identidade de Tenório Jr. ocorreu neste ano, após quase cinco décadas de buscas.
A Justiça argentina, em parceria com a Equipe Argentina de Antropologia Forense, realizou exames de impressões digitais que comprovaram que o corpo encontrado em Don Torquato, nos arredores de Buenos Aires, dois dias após o desaparecimento, era do pianista brasileiro.
Quem foi Tenório Jr.
Francisco Tenório Cerqueira Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 4 de julho de 1940, no bairro das Laranjeiras. Aos 15 anos, iniciou sua formação musical com acordeão e violão, até se dedicar ao piano — instrumento que o consagraria como um dos maiores nomes do samba-jazz e da bossa nova.
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Na década de 1970, tornou-se figura central no Beco das Garrafas, reduto da música instrumental brasileira em Copacabana. Com estilo sofisticado e domínio técnico, Tenório Jr. participou de festivais, turnês e gravações históricas, deixando sua marca em álbuns antológicos.
Tenório Jr. colaborou com grandes nomes da música brasileira, como Vinicius de Moraes, Toquinho, Wanda Sá, Leny Andrade e Edson Machado. Era conhecido por sua habilidade como acompanhante em shows e gravações, contribuindo para a consolidação da bossa nova e do samba-jazz.
Em março de 1976, o pianista embarcou em uma turnê pela Argentina e Uruguai ao lado de Vinicius de Moraes, Toquinho, Mutinho e Azeitona. Após uma apresentação no Teatro Gran Rex, em Buenos Aires, saiu do hotel Normandie e nunca mais voltou.
Desaparecimento
Segundo investigações, Tenório Jr. foi confundido com um militante político e detido por agentes do serviço secreto da Marinha argentina. Ele teria sido levado para a Escola de Mecânica da Armada (ESMA), centro clandestino de detenção e tortura, onde foi mantido por nove dias antes de ser executado.
Seu corpo foi encontrado em 20 de março de 1976 em um terreno baldio e enterrado como indigente no Cemitério de Benavídez. Na época, o desaparecimento teve pouca repercussão no Brasil, devido à censura imposta pela ditadura militar.
Identificação e laudo
Em 2025, exames de impressões digitais realizados pela Equipe Argentina de Antropologia Forense confirmaram a identidade do corpo. A Embaixada do Brasil em Buenos Aires reconheceu oficialmente a descoberta e agradeceu às autoridades argentinas pelo trabalho de busca por memória, verdade e justiça.
O laudo recebido pela família nesta semana revela que Tenório Jr. foi morto com cinco disparos. A documentação oficial encerra décadas de incerteza sobre o destino do músico, que deixou esposa e filhos, incluindo um bebê de três meses à época do desaparecimento.
Fonte: Roberta Pennafort, TV Globo – 13/09/2025