sexta-feira, julho 4, 2025
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“Falsos pastores” são presos após morte de mulher em Belém

Pastora e marido foram presos em Belém após a morte de uma mulher em situação de abuso e desnutrição. Entenda os detalhes do caso e suas implicações.

A utilização da fé para benefício próprio vem se tornando cada vez mais comum. Situações em que líderes religiosos se utilizam da crença de seus seguidores reacende o debate sobre os limites que “falsos pastores” ultrapassam a razoabilidade.

Um caso de abuso praticado por quem se dizia alguém capaz de amenizar as dores espirituais ganhou um novo desdobramento na manhã desta sexta-feira (4), com a prisão de uma pastora e seu marido, após a morte de uma mulher em Belém.

A Divisão Especializada no Atendimento à Mulher – DEAM/BELÉM, da Polícia Civil do Pará, com o apoio da 1.ª Vara de Inquéritos Policiais e Medidas Cautelares da Comarca de Belém, deu cumprimento a mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão expedidos contra Marleci Ferreira de Araújo, de 51 anos e Ronnyson dos Santos Alcantara, de 50 anos, pela prática dos crimes de violência psicológica e maus-tratos, que resultaram na morte de uma mulher de 43 anos, cujo falecimento ocorreu no dia 19 de junho desta ano, em decorrência de grave estado de desnutrição.

Segundo a PC, a investigação foi instaurada em 15/05/2025, após recebimento de denúncia anônima via canal DISQUE 181, informando que uma mulher estaria sendo mantida em cárcere privado por um casal. Além de apresentar indícios de desnutrição severa, a vítima era forçada a realizar trabalhos domésticos.

Segundo uma familiar da vítima – que preferiu ter a identidade preservada – há mais de 10 anos que a mulher vinha sofrendo os diversos abusos praticados pelos “falsos pastores”. Ela relata que a vítima sofria privação de alimentos, além de constantes casos de humilhação pública, no qual Marleci jogava comida no chão quando era desobedecida.

A família alega que tentou resgatar a vítima por diversas vezes, mas foi impedida por Marleci e Ronnyson, sob argumento que estavam sofrendo intolerância religiosa por parte dos familiares.

INVESTIGAÇÕES E PRISÕES

De acordo com a Polícia Civil, no mesmo dia do recebimento da denúncia anônima, equipe policial diligenciou até o endereço informado, sendo recebida por Ronnyson, que chamou a vítima até o portão. A mulher, visivelmente debilitada e com aspecto físico extremamente magro, negou os fatos narrados, alegando manter relação de amizade com o casal e ser vítima de intolerância religiosa por parte de sua família. Afirmou, ainda, que realizava trabalho remoto e recusou-se a acompanhar os policiais à unidade policial.

Diante da negativa, foi solicitada autorização para inspeção no cômodo onde residia, tendo sido constatadas condições precárias de moradia, além de indícios de possível alienação emocional.

A partir de então, foram iniciadas diligências investigativas com o objetivo de apurar os fatos, sendo colhidos depoimentos de testemunhas — com o importante apoio da família da vítima — que confirmaram a situação de violência psicológica vivenciada pela mulher.

Porém, a PC disse que no momento em que as investigações se aproximavam de seu encerramento, a equipe policial foi surpreendida pela informação, via consulta ao sistema SISP, de que a vítima faleceu em 19/06/2025, por desnutrição grave, conforme atestado médico.

Segundo informações do boletim de atendimento hospitalar, a vítima foi conduzida ao Pronto Socorro do Guamá pelo casal investigado, que ali se apresentou como “vizinhos”, deixando a vítima sem qualquer documentação e fugindo do local após suspeita de morte decorrente de maus-tratos, externada pela médica responsável pelo atendimento.

Diante da gravidade dos fatos e da robustez dos elementos colhidos, foram representadas as prisões preventivas e medidas de busca e apreensão, devidamente deferidas pelo juízo competente e executadas.

“A Polícia Civil do Estado do Pará, por meio da DEAM/BELÉM, reafirma seu compromisso institucional com a proteção à mulher, com a apuração célere e rigorosa de crimes de gênero e com a responsabilização de seus autores, sempre com respeito aos direitos fundamentais e com acolhimento humanizado às vítimas, disse.

FALSOS PASTORES

Segundo relatos, Marleci utilizava a autoridade que dizia ter como pastora para construir narrativas que isolavam suas vítimas de qualquer contato com o mundo exterior. Uma vez sob seu domínio e o de seu marido, Ronnyson, elas deveriam obedecer regras para alcançar a “purificação” e também sofriam punições, caso a desagradassem. Eram obrigadas a comer comida estragada, não podiam tomar banho, sofriam humilhações públicas e tinham que repassar todos os seus bens ao casal.

Por anos, Marleci e Ronnyson viveram com os recursos obtidos por meio de suas vítimas, que, segundo relatos, foram enganadas por narrativas religiosas baseadas em fé, purificação e religiosidade. Há relatos de que algumas pessoas chegaram a vender seus carros, casas e outros bens para repassar valores aos “falsos pastores”. Parentes próximos afirmam que os dois não trabalham e que mantêm sua vida a partir da farsa criada com base na fé de pessoas em busca de espiritualidade.

Fonte: Lucas Quirino – 04/07/2025

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